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LIVRO EM CENA

A Bienal do Livro do Rio, que começa nessa quinta-feira, 10, e vai até o dia 20, traz uma novidade nesta sua 14ª edição: o Livro em Cena – um espaço, coordenado pelo ator Paulo José, que reproduz uma sala de leitura, com estantes de livros, bancos e poltronas, onde grandes nomes das artes – cinema, teatro e TV – vão ler trechos de obras de importantes escritores brasileiros.

* A coluna selecionou livros de alguns dos autores que estarão representados na Bienal por personagens surgidos das páginas de seus clássicos.

* Na sexta, 11, às 18h30 – Marília Pêra lê trechos de obras de Machado de Assis.

Machado (1839-1908) é considerado pelos críticos o maior nome da literatura brasileira de todos os tempos, e falar dele é falar de “Dom Casmurro” (1899) – o famoso romance sobre o qual até hoje a dúvida persiste: “teria Capitu traído Bentinho com o melhor amigo deste, Escobar?”. Mas, para fugir da obviedade, o livro que foi escolhido para ser indicado aqui é “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881): narrado pelo defunto Brás Cubas, que escreve sua biografia (sendo, portanto, segundo o próprio, não um autor-defunto, mas o primeiro defunto-autor da história, que é caracterizado por ter morrido e depois escrito, diferente do outro que foi escritor depois morreu). Ele começa suas memórias com uma dedicatória que antecipa o humor negro e a ironia presente em todo o texto: “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico com saudosa lembrança estas Memórias Póstumas”. Brás Cubas, por estar morto, se exime de qualquer compromisso com a sociedade, sentindo-se livre para criticá-la e revelar as hipocrisias e vaidades das pessoas com quem conviveu.

Fotos: Divulgação

* No sábado, 12, às 18h30, Tony Ramos lê trechos de obras de Mário de Andrade.

Já disseram que a mais completa tradução de São Paulo não é Rita Lee, como cantou Caetano Veloso, mas uma obra mítica e irregular do Modernismo brasileiro, muito citada e pouco lida: “Paulicéia Desvairada”, de Mário de Andrade (1893-1945), publicada em 1922, mesmo ano em que o autor participou, como um dos principais organizadores, da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo. * “Paulicéia Desvairada” costuma ser examinado a partir de seu célebre prefácio – “Prefácio Interessantíssimo” – escrito por Mário de Andrade ao seu próprio livro e considerado a base do modernismo brasileiro. O texto não fala da obar, mas de uma atitude geral perante a literatura. É uma espécie de manifesto poético, em versos livres.

* E não se pode deixar de citar o romance mais famoso de Mário de Andrade tido como uma das obras capitais da narrativa brasileira no século XX: “Macunaíma” (1928) – que conta a trajetória do “herói de nossa gente”, que nasceu à margem do Uraricoera, em plena floresta amazônica, era descendente da tribo dos Tapanhumas e, desde a primeira infância, revela-se como um sujeito “preguiçoso”.

Fotos: Divulgação

* No domingo, 20, Malu Mader lê trechos de obras de Clarice Lispector.

Clarice (1920-1977) não gostava de ser chamada de intelectual, nem de literata, escrevia apenas quando realmente queria: “Outra coisa que não parece ser entendida pelos outros é quando me chamam de intelectual e eu digo que não sou. De novo, não se trata de modéstia e sim de uma realidade que nem de longe me fere. Ser intelectual é usar sobretudo a inteligência, o que eu não faço: uso é a intuição, o instinto. Ser intelectual é também ter cultura, e eu sou tão má leitora que agora já sem pudor, digo que não tenho mesmo cultura. Nem sequer li as obras importantes da humanidade”.

* “(…) Literata também não sou porque não tornei o fato de escrever livros ‘uma profissão’, nem uma ‘carreira’. Escrevi-os só quando espontaneamente me vieram, e só quando eu realmente quis. Sou uma amadora? O que sou então? Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal.”

* Num desses momentos que realmente quis escrever, Clarice escreveu “A Hora da Estrela”: A história da nordestina Macabéa, alagoana, 19 anos, órfã de pai e mãe, criada por uma tia, desprovida de qualquer encanto, virgem, ignorante, incapaz de comunicar-se com os outros, contada passo a passo pelo narrador, o escritor Rodrigo S.M. (um alter-ego de Clarice Lispector), de um modo que os leitores acompanhem o seu processo de criação. E, à medida que descreve o dia-a-dia de Macabéa na cidade do Rio de Janeiro como datilógrafa, o namoro com Olímpico de Jesus, seu relacionamento com o patrão e com a colega Glória e o encontro final com a cartomante, o autor-narrador conhece um pouco mais sua própria identidade e convida ao leitor para ver de que matéria é feita a vida.Fotos: Divulgação

Por Anna Lee

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