1. Talvez a mais importante propriedade de uma sociedade moderna seja a tolerância quando estimulada por um adequado e respeitado estatuto Constitucional que garante a separação e a independência dos poderes e tem, no seu ápice, um Supremo Tribunal Federal efetivamente republicano que é o garantidor final das liberdades individuais. Um exemplo de Sociedades como essas, em que o Poder Executivo incumbente é regularmente renovado, em períodos certos, em eleições competitivas, abertas e livres é, certamente, o Brasil
2. Essa estrutura política garante a continuidade dentro da “ordem” institucional: vai acomodando as mudanças naturais das novas necessidades criadas pela própria evolução da sociedade. Quando a disputa de idéias é livre, cada eleição geral mobiliza os desejos de mudança. Alguns encontram rapidamente o seu limite. Outros resistem e, como uma infecção, conservam-se e transferem-se até que em algum momento elas se apresentam nas “urnas” como a “preferência majoritária revelada” pela maioria e, então, a “mudança” se processa…
3. Deve ser claro para o nosso arguto leitor, que essa é a visão “idealizada” de uma racionalidade em que a “maioria” nunca erra! Ela erra, mas freqüentemente erra menos (e aprende mais depressa) do que os indivíduos porque “as informações” que cada um detem produz efeitos cumulativos, como mostram muitos experimentos psicológicos.
4. Essa divagação é para mostrar como estamos nos aproximando de um grande problema. Temos insistido nesta coluna que o problema Crescimento versus Meio Ambiente é importante pelo dilema que abriga. Os mais recentes estudos empíricos (nos países emergentes) mostram:1º) que eles desejam “fortemente” aumentar o seu PIB “per-capita” e comovem se muito pouco com a “modificação climática”; 2º) que não acreditam muito na correlação (verdadeira!) entre PIB e CO2 (o símbolo do aquecimento) ou que ele seja efeito apenas da ação humana e 3º) que se for verdadeira, ela foi causada no passado pelos países hoje desenvolvidos. Por que, eles teriam de cooperar reduzindo agora o seu crescimento?
5. É bom começar a pensar no assunto porque, queiramos ou não, esse dilema vai entrar na nossa agenda política com vigor e a “vacina” contra essa infecção pode ter efeitos colaterais trágicos…
Antonio Delfim Netto
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- Gotas de Mel e de Fel,