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Na semana passada, um grupo crescente de artistas, autores e editores manifestou forte preocupação com projetos de lei no Reino Unido que propõem permitir o uso de obras protegidas por copyright para treinar sistemas de inteligência artificial, salvo se os detentores de direitos optarem por sair desse regime. A proposta tem o objetivo de equilibrar a balança entre fomento à inovação e preservação da propriedade intelectual, mas não agradou a todos. O movimento “opt‑out” foi apelidado por críticos como “licença para roubar”, pois facilitaria o acesso de grandes empresas ao conteúdo criativo sem garantir remuneração justa.

No cerne da ação, está o debate sobre o modelo de “reservas de direitos” — com leis em análise no Parlamento, como o Data (Use and Access) Bill — que poderia favorecer corporações de tecnologia (destacando nomes como Google e OpenAI) em detrimento de músicos, escritores e pequenos criadores. Estrelas da música britânica, como Paul McCartney e Kate Bush, apoiam a causa, alertando para o risco de desvalorização do trabalho artístico e de enfraquecimento da indústria criativa no Reino Unido.

Por outro lado, gigantes do Vale do Silício argumentam que abrir o acesso a conteúdos online é essencial para manter a competitividade global em IA. Segundo suas manifestações, o modelo opt‑out já concede aos criadores o controle sobre suas obras, e basta impedir o scraping sem comprometer o desenvolvimento de algoritmos avançados.

A disputa, no entanto, transcende o Reino Unido. A União Europeia, através da Diretriz do Mercado Único Digital de 2019, adotou o copyright como mecanismo regulador do fluxo de informações digitais, mas preservou exceções para mineração de dados, ampliadas no escopo da IA. Na mesma linha, o Litígio entre Getty Images e Stability AI no Reino Unido, já em curso, testa judicialmente os limites da extração de dados visuais para alimentar modelos de IA.

O momento é singular. A economia digital se expande e os direitos autorais voltam ao centro do tabuleiro, impulsionados pela digitalização de obras e pela emergência da inteligência artificial. As decisões em curso podem definir se os grandes criadores serão adequadamente remunerados e reconhecidos, ou se perderão terreno para players tecnológicos com grande poder de processamento e engenharia. A balança que mede inovação vs. proteção está em constante reequilíbrio, influenciando pesquisadores, startups e toda a cadeia de valor do conteúdo digital.

Frente a esse panorama, é fundamental repensar o papel do copyright no novo milênio, já que sem um sistema robusto de direitos a criação artística pode perder valor, enquanto  sem flexibilidade regulatória a inovação tecnológica pode ser comprometida. O grande desafio agora é encontrar um ponto de equilíbrio que assegure tanto a expansão responsável da IA quanto a justiça e viabilidade econômica para os titulares de direitos, sendo esse um imperativo para garantir que o futuro digital seja sustentável e plural.

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