
Ficamos super impactadas com a repercussão superpositiva da nossa coluna e, principalmente, com o quanto o assunto dos 33 sentidos despertou tanta curiosidade… E, para continuar de forma ainda mais provocativa essa exploração dos sentidos, fazemos um questionamento gostoso: já se perguntaram o que faz os restaurantes terem essência? Ou ainda: já se indagaram sobre como existem lugares que ficam para sempre — ou até que durem — na nossa memória gustativa e afetiva?
No Feedbacchi da semana, vamos tentar responder explorando o sentido 30: a ressonância.
Para começar nossa investigação, vamos decupar o que é ressonância. Esse é o sentido que tange diretamente o eco emocional. E essa ideia de ecoar também sugere evocar memórias infantis, sensações e percepções que ecoam em nosso ser por instantes, dias ou décadas. Esse eco vai se solidificando, formando um sentimento que fica em nosso subconsciente. A partir daí, qualquer faísca de lembrança pode aflorar essas sensações e BUM!, somos impactados e conectados diretamente à nossa essência.
Adicione toda essa teoria ao sentimento mais primitivo, o paladar, e se permita experienciar resultados que imprimam, provoquem ou conectem você com a sua própria essência.
Sem mais delongas, aqui vão 4 representantes que ressoaram em nós por sua essência:
Tappo
Nossa vida e infância, assim como a de muitas famílias italianas, foi construída ao redor da mesa. Esperávamos todos os domingos para comer a massa ao sugo, feita na hora por nossa avó. Isso moldou a nossa vida — essa memória é parte de quem somos e do porquê fazemos o que fazemos. Encontrar um restaurante à altura dessas lembranças sempre foi uma tarefa difícil.
Mas aí surge, ou melhor, ressurge o Tappo, do Benny (vamos chamá-lo com essa intimidade, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente, pois o que vivemos ali tocou fundo nossa alma e, instantaneamente, virou familiar).
O molho vermelho foi direto para o coração e pulsou no nosso sangue italiano. Tudo lá surpreende: as entradas e os pratos — todos elegantemente bem construídos e com um sabor simples, mas não simplista.
O arancini é crocante por fora e derrete por dentro de forma leve.
O amatriciana “mi amore” é obrigatório. A densidade e profundidade do molho vermelho é um capítulo à parte e dá vontade de tomar de canudinho.
Sentido número 30 ativado com sucesso.
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Sushi Vaz
Depois de uma terça despretensiosa e de muito trabalho, deixamos para o fim do dia a reunião com um importante cliente para fecharmos um contrato que estávamos esperando há tempos. Frio na barriga, ansiedade a mil, e conseguimos emplacar mais um grande projeto. Era hora de comemorar.
Como somos literais na vida, levamos isso ao pé da letra. Sem reservas, seguimos para o Sushi Vaz, em Pinheiros. Fomos as primeiras a chegar e, por sorte típica de dias de chuva, conseguimos três lugares no disputado balcão.
Tivemos o privilégio de sermos atendidas por uma das primeiras mulheres especialistas em sushi do mundo e altamente premiada. O omakase pareado com saquê foi especial. Peixes extremamente frescos e reluzentes eram agraciados por técnicas apuradas de preparo, filetagem e cocção.
Mas o que mais ganhou nosso coração foram as histórias por trás dos preparos e dos ingredientes. Nos conectamos principalmente com a fidedignidade às origens, com o respeito à cultura e aos ingredientes. A ideia de manter a matriz intacta, mesmo podendo ser diferente.
Sabe aquela coisa de crescer sem perder as raízes?
Nada ressoa mais em nossa essência do que a verdade e, no Vaz, é com verdade que se faz.
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Aio
Localizado na Vila Madalena, o restaurante taiwanês é super descolado. Por lá, a essência fica evidente no orgulho em explorar a origem gastronômica dos seus fundadores, fundida com as mais diversas influências que refletem as vivências dos chefs.
A cozinha é aberta, pequena e intimista. Para quem está de fora, sente-se a energia e os sorrisos de quem vive e faz o que ama, e isso é uma explosão de essência na sua décima potência.
Não há nada mais belo do que a faísca e a energia que saem de quem vive seu propósito. Isso toca fundo em nossa alma, pois vivemos o que acreditamos.
O resultado? Obras-primas em forma de pratos despretensiosos e igualmente saborosos. Uma provocação de sabores e texturas:
• O crudo de peixe fresco é refrescante e apimentado.
• O xian bing, tipo um dumpling com carne de porco recheado com sopa, tem texturas tão surpreendentes que exploram muitos dos 33 sentidos.
• Para finalizar: a carta de drinks autorais é surpreendente.
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Cepa
A nova unidade mantém a essência da antiga e os sabores também.
O trabalho em família, feito de forma uníssona e potencializado pela complexidade dos indivíduos, ressoa em nós e ativa os ecos da nossa essência.
Por lá, ao invés de duas irmãs, temos um casal: ele, chef; ela, sommelier. O amor entre os dois fica evidente na harmonização dos pratos com os vinhos. O olhar atento e apurado para os ingredientes se reflete minuciosamente em cada detalhe.
A carta, repleta de orgânicos e biodinâmicos (que amamos!), tem um porquê de nada ser por acaso.
O menu segue essa mesma linha: tudo tem um propósito de existir.
Destaques:
- Para começar: um bocado de massa folhada com stracciatella, tomate e pescado do dia.
- Para seguir: brioche, unagui e foie gras. Surreal de bom.
- Para se aprofundar nesses mares: lula na brasa com feijão branco italiano, bah cauda e óleo de chorizo.
- E para sair da zona de conforto (que, para nós, é a verdadeira zona de conforto): um vinho laranja, de vinificação natural e fermentação espontânea.
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Essa foi a nossa lista, construída através da nossa história, evocando as nossas memórias.
Agora convidamos você, querido leitor, a se abrir para explorar o Sentido 30: Ressonância.
Definição simbólica
Ressonância é quando algo vibra dentro de você sem explicação lógica, como se tivesse sido criado exatamente para ecoar quem você é e sente.
E, ao invés de apenas comer ativando o paladar, que tal escolher seu próximo restaurante para ecoar memórias, degustando os pratos através das papilas da alma?
Faz isso pra já, e nos dê o seu feedback, porque esse é o Nosso FeedBacchi.
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