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PELO MENOS DUAS DÚZIAS

Listas de “Os Dez Mais” não faltam por aí. Para ficarmos na área da literatura, podemos, por exemplo, lembrar de algumas bastante comuns: “Os dez livros mais importantes do século”; “Os dez escritores mais influentes da humanidade”; “Os dez poemas que se deve ler antes de morrer”; e assim vai.

* No ano de 1938, a “Revista Acadêmica”, que reunia em seu conselho diretor autores como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Graciliano Ramos e José Lins do Rego, propôs um inquérito a cada um dos membros: “Quais são os dez melhores contos brasileiros?”. Mário de Andrade, um dos ícones do Modernismo no Brasil, na contramão dos colegas, anotou em sua reposta: “Os dez melhores contos da literatura brasileira são, pelo menos, duas dúzias”.

* Baseado nesta resposta, o escritor e crítico literário Luiz Ruffato organizou o livro “Mário de Andrade – Seus Contos Preferidos”, reunindo 23 títulos de 21 autores diferentes citados por Mário de Andrade que a editora Tinta Negra lança nesta semana. Entre eles, Álvares de Azevedo, Machado de Assis (que comparece com três histórias), Artur Azevedo, J. Simões Lopes Neto, Afonso Arinos, Valdomiro Silveira, João do Rio, Lima Barreto, Monteiro Lobato, Roque Callage, Gastão Cruls, Léo Vaz, Menotti Del Picchia, Hugo de Carvalho Ramos, Rodrigo M. F. de Andrade, Ribeiro Couto, Alcântara Machado, João Alphonsus, Darcy Azambuja e Marques Rebelo.

* Na revista, Mário de Andrade os listou “sem ordem de preferência”, em suas palavras. É interessante notar que o 24º lugar da lista foi deixado em aberto como “vaga para o conto desconhecido”. Para Ruffato, ele, teria feito isso, com modéstia e inteligência, por preferir que os leitores intuíssem e preenchessem a lacuna com o nome dele. Mas, já que não há nada escrito que confirme este intuito de Mário de Andrade, me permito, com menos direito, é claro, do que o organizador do livro, especular que talvez ele tenha deixado o 24º lugar para as obras que não citou, sinalizando que os dez melhores contos da literatura brasileira são, na verdade, bem mais do que duas dúzias.

* Os temas preferidos de Andrade poderiam ser definidos como o interesse pelo Brasil profundo (Planalto Central, os Pampas Gaúchos, o interior de São Paulo), o folclore e a cultura popular; o insólito, o incomum; e os contos urbanos, que refletem preocupações mais amplas, como estudar o ser humano em suas manifestações mais diversas.

* “Meu intuito, com a publicação de “Mário de Andrade – Seus Contos Preferidos” é oferecer esta espécie de paideuma andradiano como uma oportunidade de reflexão sobre as escolhas estéticas (e, portanto, políticas) deste que é um dos mais importantes pensadores da cultura brasileira. Compreendendo-o melhor, talvez possamos nos entender com mais profundidade”, escreve Ruffato no livro.

Ruffato reúne as “pelo menos, duas dúzias” dos contos brasileiros preferidos por Mário de Andrade

Por Anna Lee

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