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O peso invisível de cuidar

A dedicação integral ao bem-estar alheio pode se converter, de forma silenciosa, em um processo de exaustão profunda. O desgaste não provém apenas das jornadas extensas ou da sobrecarga laboral. Ele emerge, também, do investimento contínuo de energia psíquica em demandas emocionais que não encontram retorno equilibrado.

O que é burnout emocional?

O termo “burnout emocional” tem sido empregado para nomear a condição em que o esgotamento não decorre de exigências funcionais, mas da implicação afetiva excessiva com as dores, dilemas e necessidades de terceiros. Esse quadro é observado, com frequência, em profissionais da escuta, em cuidadores informais e em indivíduos que assumem papéis de suporte constante dentro dos vínculos interpessoais.

A supressão de si mesmo

O sujeito que cuida, orienta, acolhe e acompanha pode, com o tempo, passar a suprimir as próprias necessidades. Tal supressão, embora inicialmente sustentada por valores morais ou vínculos afetivos, compromete os limites psíquicos. O adoecimento instala-se, nesse contexto, como resultado de uma identificação permanente com o sofrimento do outro.

Quando não há espaço para escutar a si

A impossibilidade de estabelecer distâncias protetoras diante das dores alheias conduz à perda da própria escuta interna. As emoções passam a ser reguladas exclusivamente a partir de estímulos externos, o que impede a elaboração de experiências internas e compromete a percepção dos próprios sinais de alerta.

Não é falta de empatia — é sobrecarga

O burnout emocional não se configura, portanto, como um fracasso da empatia, mas como consequência de sua administração desregulada. A presença contínua em situações de crise, somada à ausência de pausas restauradoras, favorece a instalação de sintomas como insônia, apatia, irritabilidade, dificuldade de concentração e sensação de vazio existencial.

Mulheres e profissionais em risco

Em contextos familiares, observa-se, frequentemente, esse tipo de desgaste em mulheres que desempenham múltiplas funções de cuidado, sem redes de apoio ou reconhecimento simbólico. No ambiente institucional, profissionais da saúde, assistência social e educação tornam-se alvos recorrentes dessa sobrecarga afetiva. Não raro, tais sujeitos permanecem em estado de alerta emocional mesmo fora de seus contextos de atuação.

O risco da desconexão interna

A psique humana necessita de espaço para a elaboração do sofrimento próprio. Quando esse espaço é tomado pelas urgências externas, instala-se um desequilíbrio que afeta tanto a saúde mental quanto a capacidade de sustentar os vínculos. O sujeito exaurido torna-se vulnerável, inclusive, à ruptura das relações que antes pretendia preservar.

Autocuidado é responsabilidade, não egoísmo

Reconhecer a necessidade de autocuidado não implica abandono dos compromissos afetivos, mas a reorganização da responsabilidade subjetiva. Ao retomar a escuta de si, o indivíduo reconstrói seus próprios contornos e redefine a forma de estar com o outro sem dissolver-se nele.

Psicoterapia como espaço de restauração

A psicoterapia pode constituir um espaço fundamental para que esse processo de restauração ocorra. Por meio da escuta compassiva, torna-se possível resgatar a distinção entre envolvimento e fusão emocional, assim como desenvolver estratégias para que o cuidado não se transforme em adoecimento.

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