No ritmo atual das interações humanas, marcadas pela aceleração e pela predominância de relações mediadas por dispositivos digitais, observa-se uma crescente dificuldade na constituição de vínculos afetivos consistentes. No exercício clínico, é possível perceber o aumento de relatos que remetem à ausência de conexão emocional, expressa em manifestações como ansiedade persistente, retraimento social e fragilidade nos contatos interpessoais.
Diante desse panorama, torna-se evidente o desejo recorrente de indivíduos em recompor vínculos anteriormente deteriorados ou em aprofundar os já existentes. Esse movimento em direção à reaproximação, embora legítimo, frequentemente encontra barreiras difíceis de serem transpostas por métodos convencionais de intervenção.
Durante os atendimentos clínicos, observa-se que parte significativa dos pacientes apresenta bloqueios internos que dificultam a abertura emocional. Nessas situações, o uso terapêutico da cannabis medicinal, especialmente do canabidiol (CBD), tem revelado potencial como recurso complementar, ao possibilitar maior acesso a estados introspectivos e disposição empática.
O canabidiol, ao atuar na modulação de sistemas neurológicos envolvidos na regulação emocional, pode contribuir para a atenuação de estados psíquicos limitantes. Essa modulação facilita a emergência de conteúdos afetivos antes suprimidos, abrindo espaço para novas formas de interação consigo e com os outros.
É preciso destacar que essa abordagem não substitui os métodos clássicos de escuta terapêutica, mas os complementa por meio de uma via que amplia a consciência emocional. A introdução responsável do CBD, quando indicada, propicia um ambiente interno mais receptivo à escuta, ao diálogo e à reconstrução de relações marcadas por rupturas ou silêncios prolongados.
Essa abertura emocional, favorecida por mecanismos neuroquímicos específicos, permite aos pacientes uma revisão de suas dinâmicas relacionais, com potencial para a ressignificação de padrões enrijecidos e o estabelecimento de novos pactos afetivos. A escuta torna-se mais precisa, e a comunicação interpessoal ganha contornos mais autênticos.
Outro aspecto relevante refere-se à ampliação da percepção subjetiva, que, ao ser potencializada pelo tratamento complementar, viabiliza a identificação de conflitos anteriormente não verbalizados. Essa consciência ampliada sobre o próprio estado emocional constitui etapa fundamental no percurso de reconstrução dos laços sociais.
Relatos clínicos indicam que, a partir dessa experiência, muitos pacientes passam a interagir de maneira mais presente com familiares, parceiros e círculos próximos. Há um movimento de retorno ao outro, mediado por uma escuta que emerge do reconhecimento das próprias fragilidades e da aceitação de vulnerabilidades mútuas.
Esse processo, no entanto, exige acompanhamento técnico qualificado. A aplicação da cannabis medicinal demanda avaliação criteriosa, tanto do ponto de vista psicológico quanto médico, de modo a garantir a adequação da substância às particularidades de cada trajetória clínica.
A integração entre intervenções psicoterapêuticas e o uso monitorado do canabidiol mostra-se, portanto, como caminho possível para a restauração da capacidade de afetar e ser afetado. Esse reencontro com o outro, dirigido por escuta atenta e recursos terapêuticos bem conduzidos, pode representar um retorno às formas mais essenciais de cuidado.
O afeto, nesse contexto, não figura como acessório do processo terapêutico, mas como eixo estruturante. Reconhecer sua centralidade na clínica é compreender que toda tentativa de cura psíquica passa, inevitavelmente, pela reconstrução dos vínculos humanos que sustentam a existência.
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