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Artista carioca que já expôs em Boston e agora parte para o Salon d’Automne em Paris revela como a rigidez do Art Déco se tornou contraponto à fluidez de sua obra.

O Jardim Botânico virou porto seguro e laboratório criativo para Renata Adler. Depois de anos entre o Rio e os Estados Unidos, a artista encontrou em uma casa Art Déco o respiro que buscava: pé-direito alto, espaço para obras monumentais e uma tensão arquitetônica que dialoga com sua pesquisa sobre metamorfose. Entre camaleões, séries que nascem da urgência de transformar e a memória do verde do Alto da Boa Vista, ela fala de pertencimento, reinvenção e do olhar que o mundo lança sobre a cena brasileira. O espaço estará aberto para visitação a partir do dia 9 de setembro.

O que te conquistou nesta casa no Jardim Botânico? Sua obra tem relação com a Art Déco de alguma forma?

O que me conquistou foi a sensação de respiro. Eu procurava há anos um espaço com pé-direito alto, capaz de receber obras grandes sem que elas se sentissem “engaioladas”. A Art Déco, nesse caso, não é um vínculo direto da minha obra, mas um contraste. Eu trabalho com o orgânico, com aquilo que se move, que se transforma. O Art Déco me interessa mais como contraponto, a rigidez arquitetônica que realça a fluidez do meu trabalho.

O Art Déco tem linhas rígidas, sua obra fala de metamorfose. Esse contraste foi intencional?

Não diria que foi uma intenção consciente. Esse contraste se revelou naturalmente quando visualizei a ocupação da casa. As linhas rígidas do Art Déco acabaram funcionando como contraponto, quase como uma moldura que acentua a fluidez da minha pesquisa. Foi mais um encontro do que um planejamento: a arquitetura trouxe essa tensão e minha obra respondeu a ela.

A arquitetura virou parte da sua arte ou foi a arte que se adaptou à casa?

É uma troca. Eu não diria que me adaptei, mas que criei um diálogo. A arquitetura existe, impõe presença, mas quando as obras entram, a casa também se transforma. Gosto de pensar que não é nem submeter nem domesticar o espaço, é criar uma relação viva.

Conta um pouco mais sobre a história dos camaleões na sua vida. Por que essa obra ganhou tanta projeção e significado para você?

Para mim, os camaleões não são só uma metáfora pessoal, mas uma lembrança de algo que a própria natureza nos ensina: para crescer e se aperfeiçoar, é preciso se transformar. Todo ser humano passa por isso, ainda que resista. A metamorfose não é uma escolha, é um caminho inevitável para encontrar equilíbrio. Talvez isso esteja ligado também às minhas origens. Eu nasci no Alto da Boa Vista, cercada de verde, e aprendi cedo que, na natureza, nada se cria, tudo se transforma.
Foi nesse sentido que tanto os camaleões quanto a série “Cacos da Vida”, entre outros, surgem dessa mesma urgência: transformar o que existe em algo novo, dar sentido à mudança em vez de lutar contra ela. Acho que essa mensagem ressoou porque toca em algo universal.

O que a metamorfose significa pra você fora da arte, na vida mesmo?

Na vida, metamorfose é equilíbrio. É aceitar que nada é fixo, que a gente precisa se curar e se mover para não se petrificar. Não se trata de inconstância, mas de resiliência. Eu levo isso para as minhas relações, para as obras e para a forma como lido com a cidade, com o mundo.

Entre Boston, Parque Lage e tantos lugares emblemáticos, qual a representatividade do Jardim Botânico para você?

Eu já morei em outros bairros do Rio e também passei sete anos nos Estados Unidos, mas foi no Jardim Botânico que encontrei um verdadeiro pertencimento. A natureza aqui é uma extensão da casa e, ao mesmo tempo, é um lugar central, conectado com a cidade. Depois de tantos deslocamentos, voltar às raízes no Rio foi uma escolha consciente: aqui me sinto feliz, enraizada e, ao mesmo tempo, aberta ao mundo.

Agora vem Paris, o Salon d’Automne. De que forma o Brasil vai ser visto lá? O que o mundo acha mais fascinante na arte feita no Brasil?

Acredito que o Brasil será visto como território de força vital, onde a arte nasce do encontro entre culturas, ancestralidades e paisagens diversas. O que fascina é justamente essa capacidade de criar a partir da abundância e também da falta, de reinventar a matéria e a linguagem. Nossa arte é viva como a floresta.

A cena contemporânea brasileira ainda é subestimada no exterior ou já é vista como potência criativa?

Acho que ainda há preconceitos, mas eles já não conseguem apagar a potência. A cena brasileira é cada vez mais reconhecida como criativa, diversa e inovadora. O desafio é estruturar formas de circulação para que essa potência seja vista de forma contínua, não apenas em momentos pontuais.

 

Fotos: Divulgação

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