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Kaê Guajajara
Foto: Divulgação/ Thamires Andrade

Nascida em uma aldeia indígena no Maranhão, pertencente à etnia Guajajara, Kaê Guajajara sofreu diversas perseguições na vida. Aos 10 anos, mudou-se com a família para o Complexo da Maré, no Rio, em busca de melhores condições de vida. Lá, sofreu outro tipo de perseguição, como o bullying na escola e assédio moral nos trabalhos que teve de encarar antes de se lançar como cantora.

Parte dessa experiência, feita de sofrimento, mas também de muita resistência, está em “Kwarahy Tazyr”, seu primeiro disco, lançado no ano passado. A obra, cujo nome significa “Filha do Sol”, acaba de ganhar um álbum visual, o primeiro de uma artista indígena brasileira, o que é fonte de orgulho, mas também incômodo.

“Não gostaria de ser a primeira e de essa ser a realidade, mas é uma forma de a gente dizer que está vivo. Gostaria de ter tido referências de artistas indígenas que fizeram o que eu fiz. Queria poder me inspirar nas pessoas que eram parecidas comigo, mas isso não existiu”, diz ela em conversa com o GLMRM.

Foto: Divulgação/Tayná Sampaio

Em um dos episódios que mais marcaram a cantora e ativista de 29 anos, ela trabalhava como recepcionista de uma empresa quando foi repreendida por aparecer com uma pintura na pele feita de jenipapo, uma tradição do seu povo e que marca a pele durante semanas.

“Eu não podia praticar a minha cultura. Como o jenipapo dura 15 dias, não bastou voltar para casa. Então, para não ficar na frente da recepção recebendo as pessoas, eles me colocaram atendendo telefonemas nos fundos para ninguém me ver”

Em uma escola pública da favela do Rio, onde estudou, Kaê também relata perseguições constantes. Parte das colegas queria cortar seu cabelo, enquanto uma delas simplesmente lhe espancou. “Minha mãe ficou chocada porque cheguei em casa com a cara toda ensanguentada”, lembra.

Música contra apagamento

A música sempre foi o lugar de refúgio da jovem indígena. Kaê resolveu transformar a sua trajetória e de sua família, permeada de tentativas de apagamento em versos. Em 2019, lançou o primeiro EP, “Hapohu”. O disco inédito veio dois anos depois, em 2021.

Apesar de lamentar o passado e a falta de referências de outros artistas indígenas, Kaê também revela orgulho em poder finalmente ser ela própria uma inspiração para que outros jovens como ela acreditarem que podem viver de arte.

Foto: Divulgação/Tayná Sampaio

Mas não só ele. Com um gênero musical batizado por ela de MPO (Música Popular Originária), Kaê quer furar a bolha e levar sua música para mais ouvidos. As músicas são cantadas em vários idiomas, seja a sua língua-mãe, a zeeg’ete, ou em inglês.

Com isso, espera levar consciência sobre a importância da cultura dos povos indígenas pela música. “Só vai haver alguma mudança quando todo mundo fizer um acordo para podermos, primeiramente, gerar reparação para os povos originários”.

Como muitas histórias de culturas indígenas, “Kwarahy Tazyr”, o álbum visual, foi inspirado nos sonhos da artista. “Eu dormia e começava a sonhar com melodias e imagens de pessoas se jogando de várias cachoeiras. Quando acordei, gravei a sonoridade para não perder a composição”, conta. Os sonhos também são panos de fundo para os clipes, lançados um por semana.

Confira o teaser do álbum visual:

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