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Nuvem Rosa
Foto: Divulgação

Uma névoa tóxica se espalha inexplicavelmente pelo mundo matando diversas pessoas e obrigando os sobreviventes a se isolarem em suas casas. Giovana se vê presa dentro do seu apartamento ao lado de Yago, um cara que ela havia conhecido em uma festa na noite anterior. Enquanto são obrigados a viver o isolamento juntos, a dupla reflete os planos de vida e sobrevivência diante de um futuro incerto e desconhecido.

Essa claramente poderia ser a descrição de uma história real vivida durante a pandemia, mas esse é o roteiro do filme “A Nuvem Rosa”, única produção brasileira selecionada para o Festival de Cinema de Sundance de 2022. Uma espécie de premonição da pandemia, o longa da gaúcha Iuli Gerbase foi idealizado em 2017 e gravado em 2019, ou seja, antes do coronavírus se espalhar. “Nunca imaginei que nada perto disso pudesse acontecer”, conta Renata de Lélis, atriz que interpreta Giovana, quando falamos sobre a ‘quase premonição’ do filme. “Os acontecimentos do filme começaram a se repetir na realidade e isso foi chocante. Mas o que mais me impressionou foi ver os sentimentos dos personagens se tornarem os sentimentos de todos nós”, lembra em conversa com GLMRM.

Renata, que está finalizando o curta-metragem “NAU”, no qual é diretora e roteirista, entregou as semelhanças de viver o isolamento forçado por uma doença mortal na ficção meses antes de ser obrigada a viver a realidade que a Covid-19 impôs ao mundo.

  • Conta um pouco sobre sua personagem no longa “A Nuvem Rosa”?

  • A Giovana é uma mulher moderna, independente profissionalmente, e ativa sexualmente. Ela não quer casar e não quer ter filhos. Gosta de ser solteira, de cuidar da sua própria vida, de ter liberdade de ir e vir. Giovana é a pessoa que transa na primeira noite sem dilemas. Uma mulher que não se encaixa nos padrões do patriarcado. No decorrer da história, a personagem é forçada a mudar seus planos radicalmente. Dez anos se passam e Giovana precisa se adaptar a uma nova realidade imposta para sobreviver. Ela muda, mas sua essência não.

  • Depois de ficar presa em um apartamento durante quatro semanas para rodar o filme, qual foi a sensação de entrar no isolamento real? Acha que isso de alguma forma preparou  você psicologicamente?

  • Foi como se eu permanecesse presa na ‘Nuvem Rosa’, com uma constante sensação de déjàvu. Não era nada legal porque no filme há uma nuvem tóxica mortal e Giovana vê as pessoas morrendo. Há medo, ansiedade e desilusão, mas também uma espécie de histeria coletiva que quer ver o lado bom da nuvem. Quando tudo isso, de repente, se tornou a nossa realidade, foi um choque. Com a experiência do filme, consegui manter uma certa calma, já que pelo menos ainda podia caminhar na rua, ou ir ao supermercado, diferente do que acontece no filme. Já entregando um spoiler aqui. [Risos]

  • Seu isolamento social real teve alguma semelhança com o do filme?

  • Por sorte, não! [risos] Mas não foi fácil, tive Covid, perdi um tio e sofri muito. Agora, vacinados parece que uma ponta de esperança surge, mas não podemos facilitar para esse vírus.

  • Na história, Giovanna fica presa dentro do seu apartamento ao lado de um cara que conheceu em uma festa na véspera. E se isso acontecesse com você?

  • Eu tive mais escolhas que a Giovana. Ela e o Yago passam 10 anos presos e muita coisa acontece nesse “novo normal”. Eles acabam assumindo os papéis de um casamento, o oposto do que Giovana almejava para sua vida. Ela até consegue viver isso por um tempo. O ser humano é capaz de se adaptar a quase tudo.

  • O filme foi a única produção brasileira selecionada para o Festival de Sundance, sem contar que está sendo muito mencionado internacionalmente. Como você explica esse sucesso?

  • Sim, o filme continua no circuito de festivais. Acaba de receber o prêmio de Melhor Filme no Sofia Film Festival, na Bulgária, e está indo para o Science Fiction Festival, na Itália. Também esteve na Alemanha, Espanha, Rússia e Taiwan. Acho que essa repercussão tão positiva na crítica internacional existe por ser um retrato da pandemia, antes da pandemia existir. Ele reflete um sentimento universal com a autenticidade de não ser intencional. Por esse motivo, o filme é despretensioso e genuíno. É um grande mérito de toda a equipe e elenco, mas principalmente da diretora Luli Gerbase.

  • O que a gente não entendeu sobre essa pandemia e sobre o isolamento social?

  • Nossa, que pergunta difícil. Acho que essa dita ‘pós-verdade’. Essas ficções paralelas e manipulações dos fatos. Estamos vendo que isso acontece o tempo todo e está escancarado. É vergonhoso, mas muitas pessoas ainda são manipuladas e se deixam manipular.

  • E quais lições a gente pode tirar de “A Nuvem Rosa”?

  • ‘Nuvem Rosa’ é um filme sensível e emocionante que mexe com as nossas vísceras. Não tem como não se identificar. Mas acho que cada um acaba tirando suas próprias conclusões, porque não deixa de ser um convite a um mergulho em si mesmo.

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