A cantora e empresária Preta Gil morreu no domingo (20), aos 50 anos, em decorrência de complicações causadas por um câncer no intestino. Diagnosticada em janeiro de 2023, ela passou por diferentes tratamentos no Brasil e nos Estados Unidos.
Após sessões de quimioterapia, radioterapia e uma cirurgia para remoção de tumores realizada em agosto de 2024, a doença retornou, atingindo outras áreas do corpo. Nos últimos meses, Preta estava hospedada em Nova York e se deslocava até Washington para receber terapias experimentais em um centro médico especializado.
Trajetória na música começou aos 29 anos
Preta iniciou sua carreira como publicitária e produtora, mas abandonou essas atividades aos 29 anos para seguir seu sonho na música. Em 2003, lançou o álbum de estreia “Prêt-à Porter”, que trazia a canção “Sinais de Fogo”, composta por Ana Carolina especialmente para ela.
A capa do disco causou polêmica por trazer a cantora nua, o que gerou críticas. “Eu lembro que fui mostrar para o meu pai e ele falou: ‘Desnecessário, Preta’. Aquilo foi uma confusão na minha cabeça. Mas meu pai é um sábio. Ele sabia exatamente o que eu ia passar depois. Eu lancei o disco achando que estava abafando, mas veio uma enxurrada de muitas críticas na época. De muito conservadorismo”, contou Preta em entrevista a Pedro Bial.
Do sucesso nos palcos ao protagonismo no carnaval
Em setembro de 2005, Preta lançou o segundo disco, “Preta”, com faixas como “Muito Perigoso” e “Eu e você, você e eu”. Cinco anos depois, apresentou “Noite Preta”, show que percorreu o país por sete anos.
O projeto foi sucedido pelo “Baile da Preta”, espetáculo com repertório variado. “O Baile da Preta retrata a minha personalidade musical, meu ecletismo, meu gosto e meu respeito pela MPB, que para mim, abrange desde Caetano Veloso e Gilberto Gil até Aviões do Forró e Psirico”, explicou Preta em seu site oficial.
Ainda em 2010, ela estreou na televisão com o programa “Vai e Vem”, gravado em um elevador cenográfico. “Queria que fosse um programa sem vulgaridade, com inteligência, com humor”, relatou em conversa com Jô Soares.
Bloco da Preta reuniu multidões e virou tradição do carnaval carioca
No mesmo ano, a artista fundou o “Bloco da Preta”, que desfilou pela primeira vez nas ruas do Rio. A folia ganhou força e, em 2017, atraiu mais de 500 mil pessoas em homenagem a Chacrinha.
“É o momento ápice do meu ano. Trabalho o ano inteiro, faço mil atividades, mas o meu grande ‘xodó’ é o Bloco da Preta. Nele eu deposito muito da minha energia. O ano inteiro de planejamento, reuniões. É um momento muito especial, onde eu fico muito grata a Deus, aos meus fãs”, declarou Preta ao g1.
Últimos trabalhos celebraram diversidade e parcerias com grandes nomes
Em 2012, a cantora lançou o álbum “Sou como Sou”, com faixas como “Mulher Carioca” e “Relax”. Três anos depois, celebrou os dez anos de carreira com o DVD “Bloco da Preta”, reunindo ritmos como pop, funk, samba, axé e pagode. O projeto contou com participações de Lulu Santos, Ivete Sangalo, Anitta, Thiaguinho e Israel Novaes.
Seu último disco foi “Todas as Cores”, lançado em 2017 exclusivamente no formato digital. A obra incluiu colaborações com Gal Costa, Pabllo Vittar e Marília Mendonça, além da faixa “Botando a fila para andar”, outra composição de Ana Carolina.
Em 2021, Preta gravou “Meu Xodó” ao lado do filho, Fran. Na ocasião, revelou o impacto emocional da música: “Se não fosse o Fran, eu talvez tivesse perdido a minha voz mesmo, porque sou intérprete, não sei tocar instrumento. Ele foi me estimulando o tempo inteiro a não entrar nessa bad total”, disse ao G1.
Carreira incluiu televisão, empreendedorismo e ativismo
Além da música, Preta fez participações em séries e novelas como “Ó Paí, Ó”, “As Cariocas” e “Vai que Cola”. Fora dos palcos, ela também atuou como empresária. Foi sócia da agência de marketing de influência Mynd, que cuidava da imagem de artistas como Luísa Sonza, Camilla de Lucas e Pabllo Vittar.
A artista era conhecida também por levantar bandeiras importantes, como o combate ao racismo, a defesa da diversidade e a valorização do corpo feminino. Sua postura franca e bem-humorada lhe rendeu forte identificação com o público.
Família: raízes musicais e laços afetivos
Preta era filha do cantor Gilberto Gil com Sandra Gadelha. O casal também teve Pedro e Maria. Ao todo, Preta tinha sete irmãos, entre eles a chef de cozinha Bela Gil e o músico Bem Gil.
Em 1994, ela se casou com o ator Otávio Müller, com quem teve Francisco Gil, seu único filho. Francisco, por sua vez, é pai de Sol de Maria, única neta da artista. O casamento terminou em 1995.
Preta voltou a se casar em 2009 com o mergulhador Carlos Henrique Lima, mas a união durou até 2013. No mesmo ano, iniciou relacionamento com Pedro Godoy. O casamento entre os dois foi oficializado em 2015 e chegou ao fim em 2023, durante o tratamento da cantora contra o câncer.