
Que as tendências estão cada vez mais rápidas, nós já sabemos. Mas, entre todas, os últimos tempos foram marcados principalmente por uma única estética: a clean girl. Ainda que tenha recebido várias versões — várias “girls” e vários “-cores” —, a ideia era a mesma: trazer o minimalismo como grande destaque do look, dos acessórios, do cabelo e da maquiagem.
O guarda-roupa se fixava em evitar estampas e tons vibrantes, com a intenção de criar essa atmosfera mais limpa, que dá nome à trend. Depois de um ano moldando o imaginário do que é se vestir bem, agora, de fashionistas às grandes marcas que ditam os hits da próxima temporada, todos apontam que essa era está ficando para trás e dando espaço para o “extra” voltar.
Após a pandemia, muitos acreditavam que haveria um boom de cores e exageros, algo que simbolizasse a recuperação do “tempo perdido” da quarentena. No entanto, o caminho foi o oposto: depois de tanto tempo investindo em moletons e roupas confortáveis para ficar em casa, construiu-se um estilo mais básico e funcional. Assim, peças versáteis dominaram — como a camisa branca e o blazer, que cabem tanto em um jantar com amigas quanto no office look.
E, como sempre acontece, tudo que se populariza demais acaba ganhando um contraponto na moda. A diferenciação da clean girl não se traduz necessariamente em uma party girl ou messy girl, como se dizia até recentemente. O caminho inverso tem sido apostar na personalização das peças minimalistas. Ou seja: o blazer aparece em novas modelagens, cores e recortes; a camisa branca ganha brilho, bordados ou franjas; e o jeans surge com lavagens diferenciadas, maior amplitude e referências vintage.
Por isso, não considero que estamos diante do fim da clean girl. Esse estilo ajudou muitas pessoas a se encontrarem na moda e continua válido para quem se sente mais confiante, elegante ou sofisticada dentro dele. A tendência se consolidou como uma base sólida para revisitar o guarda-roupa e atualizar peças clássicas. Particularmente, sempre fui conhecida por amar cores, volumes e ousadia, mas vejo que esse momento do minimalismo ajudou a repensar o uso da extravagância e, ao mesmo tempo, abriu espaço para que cada pessoa construísse seu estilo pessoal a partir do básico.
O conjunto de camisa branca, jeans, maquiagem natural e coque baixo vai acabar? Acredito que não. Muitas mulheres enxergam nessa estética uma solução prática para a rotina acelerada, que combina trabalho, compromissos pessoais e vida social. Essa versatilidade traduz muito do nosso momento como sociedade. Por isso, a clean girl é uma consequência que não deve desaparecer para todas.
Do outro lado, vemos as passarelas trazendo a tal extravagância dosada: acessórios em excesso, maquiagem dramática, silhuetas ousadas e volumosas. Se olharmos com atenção, cada coleção aplica o DNA da marca em uma estética que dialoga várias vezes com o minimalismo. Em outras palavras, toda essa simplicidade vivida nos últimos tempos serviu de base para uma moda que busca autenticidade com equilíbrio — integrando o clássico ao moderno e o modesto ao extravagante.
- Neste artigo:
- colunista GLMRM,
- comportamento,
- Helena Silvarolli,
- Moda e Design,