Misturando tradição e inovação com um olhar apurado sobre a moda feminina contemporânea, Yasmin Adas, CEO e diretora criativa da Aylla, conversou com o GLMRM sobre propósito, produção slow fashion, produto artesanal e suas coleções que dialogam com a força feminina — além de todo o processo de empreender em família, o DNA da marca e seus próximos passos.
A Aylla nasceu da união entre duas gerações. Como foi esse processo de fundar uma marca com sua mãe e como vocês equilibram visões diferentes dentro da criação?
Minha mãe trabalha com couro há mais de 30 anos e, sendo criada dentro desse universo da moda junto com ela, sempre foi nítido para mim o desejo de ter uma marca própria. Quando deixei o mercado corporativo, em 2021, e reeditamos a Aylla, tudo aconteceu de forma natural. Desde o início dividimos funções muito claras dentro da empresa, o que ajudou a respeitar as opiniões de cada uma. Mesmo assim, é inevitável termos visões diferentes — e acho que é justamente isso que torna o processo de criação tão rico. Eu trago uma visão de negócio e construção de marca, enquanto ela traz a tecnicidade e o know-how de produto. Juntas, transformamos conceito em produto, campanha e comunicação.
Você cresceu imersa nesse universo. De que forma essa vivência familiar com o couro e a moda influenciou o seu olhar criativo?
Com certeza influenciou muito. Crescer com meus pais trabalhando com moda fez com que eu e meus irmãos vivêssemos arte de forma muito próxima — não só a consumíssemos, mas a presenciássemos. A fábrica dos meus pais sempre foi um espaço de criação, do trabalho manual ao lado artístico das campanhas. Acho que fui mais influenciada pelo lado da comunicação e das marcas, o que acabou sendo minha formação e é a área em que atuo hoje dentro da Aylla.
A Aylla se destaca por unir tradição e inovação. Como essa dualidade se traduz nas coleções?
Acredito que essa dualidade está na nossa engenharia de produto. A Aylla nunca foi sobre criar designs ultra-inovadores, mas sobre aprimorar a construção das peças e cuidar dos detalhes. Essa combinação do know-how da minha mãe no couro com a minha visão de marca trouxe um produto de luxo acessível a um público que ainda era pouco explorado. Hoje nossos preços são competitivos, mas com qualidade excepcional. Nosso investimento está na equipe de desenvolvimento e produção — é ali que a mágica acontece.
Como as coleções da Aylla dialogam com a mulher contemporânea?
A mulher contemporânea não tem um único estilo — ela é múltipla. Às vezes quer conforto, outras vezes quer se sentir poderosa. Eu mesma tenho dias de calça larga e tênis, e outros em que quero salto e acessórios. Nosso guarda-roupa reflete isso: temos jaquetas oversized e saias rodadas, peças que permitem à mulher se enxergar em diferentes versões de si mesma.
O trabalho artesanal é um dos pilares da marca. Qual o peso da produção manual e do slow fashion na identidade da Aylla?
É o coração da marca. Trabalhar com couro é um processo artesanal do início ao fim: desde a seleção das peles até o corte — que ainda é feito manualmente pelo meu pai — e o acabamento. Mesmo com tecnologia disponível, acreditamos que nenhuma máquina enxerga as belezas naturais do couro como o olhar humano. Além disso, cada peça é produzida em quantidades limitadas, o que reforça nossa essência slow fashion e o compromisso com a exclusividade.
Como foi o processo de abertura da primeira loja física da marca em São Paulo? Existe o desejo de expandir?
Foi desafiador e emocionante ao mesmo tempo. A gente nunca sente que está 100% pronta, mas sabíamos que era hora de proporcionar às clientes a experiência de tocar e sentir nossas peças. A loja ficou exatamente como imaginamos: sofisticada, intimista e acolhedora. Claro que pensamos em expandir, principalmente com a chegada de novas categorias, como acessórios e sapatos, mas queremos manter esse conceito mais exclusivo que traduz tão bem o nosso posicionamento.
A Aylla é uma marca jovem, mas já com uma identidade muito clara. Quais são os próximos passos dessa trajetória?
Queremos continuar fortalecendo essa identidade. Não temos grandes projetos de curto prazo — preferimos focar em consistência, melhoria contínua e excelência. Sabemos quem somos e aonde queremos chegar, e acreditamos que o crescimento virá naturalmente se mantivermos nossos valores e visão de longo prazo.
Por fim, o que a mulher Aylla representa para você?
A mulher Aylla representa liberdade. Liberdade de ser autêntica, de se reinventar, de se expressar pela roupa. Liberdade de ser poderosa em alguns dias e mais leve em outros — mas sempre fiel a si mesma.