Do entretenimento à influência: como Priscila Jaffé construiu um negócio onde quase ninguém via futuro

Foto Divulgação

Antes de se tornar uma das vozes mais atentas do marketing de influência no Brasil, Priscila Jaffé construiu sua carreira no entretenimento. Atuou no teatro, na produção cultural, no cinema e em grandes eventos, sempre nos bastidores, conectando pessoas e construindo narrativas. Essa experiência foi determinante para que ela reconhecesse, ainda no início, o potencial de um mercado que começava a ganhar forma no país.

“Eu sempre fui do entretenimento. Fiz teatro a vida inteira, cursei Produção Cultural na UFF (apesar de depois ter cursado finanças nos EUA), fui produtora de cinema e de grandes eventos. Sempre estive nos bastidores criando narrativas, experiências e conectando pessoas.”

Quando os influenciadores passaram a ocupar espaço na comunicação das marcas, o setor ainda era tratado com cautela. Para Priscila, no entanto, havia ali elementos familiares: engajamento real, formação de comunidades e capacidade de gerar impacto cultural.

“Quando os influenciadores entraram na minha vida, o mercado ainda era muito novo. Mas eu reconheci ali algo muito familiar: pessoas gerando impacto real, mobilizando comunidades e criando cultura. Aquilo fazia total sentido para mim.”

A decisão de entrar nesse universo não foi apenas intuitiva. Segundo ela, havia uma leitura clara de oportunidade em um mercado que unia entretenimento, comunicação e comportamento, áreas que sempre fizeram parte de sua atuação profissional. “Vi uma oportunidade rara: um mercado em crescimento acelerado, que unia entretenimento, comunicação e comportamento; exatamente onde eu sempre quis atuar. Era a chance de crescer rápido, trabalhar com o que eu amo e ser minha própria chefe.”

O início da operação, porém, foi marcado por instabilidade financeira e aprendizado prático. “Mas confesso que, no início, apesar de superdivertido, eu fiz mais dívidas do que ganhei dinheiro (risos).”

Liderança feminina em um ambiente ainda masculino

Ao longo do crescimento do negócio, Priscila se deparou com barreiras que extrapolavam o campo técnico. Para ela, uma das principais dificuldades foi entender que não precisava pedir autorização para ocupar espaços de decisão. “A barreira mais difícil foi aprender a não pedir permissão para ocupar espaço.”

Ela relata que, durante um período, tentou se moldar para se adaptar a ambientes em que as decisões estratégicas ainda são majoritariamente masculinas. “Por muito tempo, tentei ser mais contida, menos intensa, para caber principalmente em ambientes onde as decisões estratégicas ainda são majoritariamente masculinas.”

Segundo Priscila, há uma diferença clara entre a base do mercado de influência e os espaços onde se concentram as decisões financeiras e estruturais. “O mercado de influência, na sua base, é extremamente diverso, feminino e muito conectado à comunidade LGBTQIA+. Existe uma energia criativa, plural e potente ali. Mas quando a conversa sobe para o nível de C-level, conselhos, bancos, tecnologia e grandes decisões financeiras, o cenário muda. A mesa ainda é, em grande parte, masculina.”

A mudança de postura veio quando ela passou a sustentar sua presença com mais firmeza, sem abrir mão da escuta e da sensibilidade. “Foi nesse ponto que precisei deixar a insegurança de lado e entender que, para ser ouvida e respeitada, eu não precisava me diminuir, mas sim sustentar minha presença e trazer uma energia um pouco mais masculina pra mesa. Aprendi a equilibrar minha sensibilidade com firmeza, minha escuta com objetividade e trazer essa energia mais direta quando necessário.”

Maternidade e mudança de escala

Ao analisar sua própria trajetória, Priscila identifica dois momentos de inflexão. O primeiro foi a maternidade, que alterou profundamente sua relação com o trabalho e o risco. “Acho que tive duas grandes viradas. A primeira foi quando me tornei mãe. A partir dali, aquele universo criativo, leve e divertido do entretenimento passou a ter um peso completamente diferente: ele se tornou o sustento da minha filha.”

A partir desse momento, cada decisão passou a ser pensada também como construção de estabilidade e futuro. “Passei a enxergar cada decisão não só como escolha profissional, mas como construção de estabilidade, futuro e exemplo.”

“A segunda virada foi a decisão de sair do modelo tradicional de agência e criar a ORBBY. Foi quando deixei de ser apenas uma executora de campanhas para me tornar uma founder, construindo tecnologia, infraestrutura e visão de longo prazo para o mercado de influência. Essa escolha exigiu desapego, risco financeiro e uma reconstrução profunda, mas também foi o momento em que entendi que meu impacto poderia ser muito maior do que qualquer projeto isolado.”

Crise, ruptura e reconstrução

A decisão mais ousada de sua carreira veio em um momento de instabilidade pessoal e profissional, quando optou por encerrar uma parceria para seguir com um projeto próprio. “O momento mais ousado foi a decisão de parar de representar a Influur no Brasil para criar a ORBBY.”

O processo foi atravessado por uma quebra de confiança que quase comprometeu sua operação. “Confiei em alguém muito próximo do mercado, alguém em quem eu acreditava, e isso acabou se transformando em um golpe que quase destruiu minha empresa e o meu emocional.”

Ainda assim, ela optou por seguir adiante e recomeçar. “Eu poderia ter recuado, escolhido o caminho confortável ou simplesmente tentado sobreviver ao que já existia. Mas resolvi fazer o oposto. Escolhi me levantar em meio ao caos e criar a ORBBY.”

O custo emocional de empreender

Para mulheres que estão começando a empreender, Priscila afirma que a principal exigência não é técnica, mas emocional. “Empreender exige muito mais preparo emocional do que técnico. Você vai tomar decisões sem ter todas as respostas, enfrentar solidão e precisar confiar em si mesma quando ninguém mais enxerga o que você vê.”

Segundo ela, a construção da autoconfiança é um processo contínuo. “A grande verdade é: empreender é um exercício diário de autoconfiança. E isso se constrói vivendo, errando e continuando.”

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