Do improviso ao sucesso: Como nasceu e cresceu a PikurruchA’S, uma das maiores confeitarias da América Latina

Foto Divulgação

O que começou como uma solução caseira para o próprio casamento, hoje é uma marca que fatura R$ 15 milhões por ano e virou referência em confeitaria afetiva e experiência sensorial. Ana Lygia Faria, conhecida como Ana Piku, cofundadora da PikurruchA’S ao lado do marido, Alexandre Silva, compartilha nesta entrevista os aprendizados da trajetória do casal, os desafios de crescer sem perder a essência e as estratégias que transformaram uma ideia simples em um fenômeno de marca.

A PikurruchA’S nasceu de um improviso afetivo no seu casamento. Em que momento você percebeu que aquela ideia caseira poderia se transformar em um negócio estruturado e escalável?

Na verdade, a PikurruchA’S nasceu de uma necessidade. Nós fizemos os doces do nosso casamento porque não podíamos pagar por uma mesa profissional. Foi ali, entre granulados e panelas, que descobrimos que aquilo era mais do que uma solução pontual — era um caminho. A ficha caiu de verdade quando começamos a receber pedidos e perceber que as pessoas não viam só o sabor nos nossos brigadeiros, mas também o afeto, o cuidado e a estética que entregávamos. A profissionalização veio no meio da jornada, quando entendemos que dava para escalar sem perder o toque artesanal e que, com dedicação e propósito, poderíamos transformar aquele improviso em uma das maiores confeitarias da América Latina.

O novo cardápio amplia a proposta da marca para todas as horas do dia, com pratos salgados, bebidas autorais e até opções sem açúcar. Como essa reformulação se conecta com a evolução da PikurruchA’S e com o comportamento dos clientes?

Sempre estivemos muito atentos ao comportamento das pessoas dentro das nossas lojas. Percebemos que elas queriam ficar mais tempo, viver mais do que apenas um momento doce — queriam experiências completas. Essa evolução do cardápio é uma resposta direta a isso. Ampliar para salgados, cafés, brunches, drinks e até opções mais equilibradas é entender que a PikurruchA’S não é só uma confeitaria — é um espaço para celebrar a vida em qualquer hora do dia. A gente cresceu junto com os nossos clientes e a nossa proposta hoje é acompanhar os momentos reais do dia a dia deles, com sabor, experiência, praticidade e propósito.

De uma produção na cozinha de casa até uma rede com faturamento de R$ 15 milhões, quais estratégias foram mais importantes para escalar o negócio sem perder a essência artesanal e afetiva?

Foi um equilíbrio entre coragem, renúncia e consistência. Escalar sem perder a essência exige muito mais do que técnica — exige clareza de valores. Sempre nos perguntamos: “Isso tem a nossa cara? Esse produto entrega o que prometemos desde o primeiro brigadeiro?” Criamos processos, treinamentos e uma cultura muito forte para que o padrão se mantivesse. Dividimos bem os papéis entre mim e o Alexandre (Silva), meu marido e sócio, investimos em uma equipe que acredita no que fazemos e nunca deixamos de olhar para o cliente com o mesmo carinho do início. A essência está nos detalhes — e nunca abrimos mão disso.

A marca virou um fenômeno de público, parcerias e redes sociais. O que você acredita que faz a PikurruchA’S se destacar em um mercado tão concorrido?

A gente nunca vendeu só doce. A gente entrega sentimento e movimento de marca. Desde a escolha das embalagens até o jeito de servir um brigadeiro empratado na hora, eventos imersivos, delivery pela cidade — tudo é pensado para encantar. E o encantamento não se copia. Criamos um universo visual e emocional onde tudo tem sentido: a loja rosa, os ursos, o cheirinho das preparações sendo feitas na hora, a trilha sonora, os produtos que despertam desejo e afeto ao mesmo tempo. Além disso, temos uma comunicação autêntica e próxima nas redes. O público se identifica, se conecta e participa da nossa história. A PikurruchA’S é uma marca que conversa com o coração das pessoas.

A identidade forte construída vai além da confeitaria tradicional — das lojas imersivas aos produtos presenteáveis e às criações que acompanham tendências. Como essa atenção à experiência sensorial e ao lifestyle do cliente se transformou em estratégia?

A gente entendeu, desde cedo, que as pessoas não consomem só pelo sabor, mas pela experiência. E foi aí que decidimos criar um mundo em volta do produto: nossas lojas são cenários imersivos, nossos produtos viram presentes, nossas embalagens são desejadas, nossas sobremesas têm história. Cada detalhe importa. Isso virou estratégia porque entendemos que o cliente quer mais do que um doce — ele quer se sentir parte de algo. A PikurruchA’S virou lifestyle porque traduz um jeito doce e encantador de ver a vida. E isso cria vínculo, gera desejo, fideliza e traz recorrência.

Para quem sonha em empreender com criatividade e propósito, especialmente no setor de gastronomia, qual seria o conselho mais sincero que você daria hoje?

Tenha coragem para começar, mesmo sem saber tudo, e humildade para aprender no caminho. Empreender com propósito é uma jornada de escolhas difíceis, renúncias e muita dedicação. Mas, se o que você faz tem verdade e intenção, e entrega algo de valor para o outro, o caminho se constrói. Não espere tudo estar perfeito. Comece com o que tem. Escute o cliente, adapte, melhore, insista. E nunca se esqueça: o segredo não está no glamour das redes, mas no bastidor, no suor diário e na paixão pelo que se faz.

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