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Foto Divulgação

Andar por São Paulo tem se tornado, para muitos, uma experiência cinzenta. Quarteirões repletos de torres envidraçadas, fachadas sem vida e pouca diversidade de usos compõem uma paisagem cada vez mais homogênea. O que parece apenas uma questão estética, no entanto, pode ter consequências muito mais profundas: influenciar diretamente nosso humor, nossa atenção e até nossa saúde mental.

A ciência por trás da paisagem urbana

Pesquisas internacionais têm demonstrado os efeitos da monotonia arquitetônica no bem-estar humano. O neurocientista Colin Ellard, da Universidade de Waterloo, mostrou que quarteirões de fachadas repetitivas e vitrines fechadas reduzem o nível de ativação fisiológica das pessoas, enquanto ruas com comércio local e variedade arquitetônica despertam mais engajamento e vitalidade.

Outro experimento, conduzido pelos psicólogos Colleen Merrifield e James Danckert, revelou que o tédio provocado por imagens neutras eleva os níveis de cortisol (o hormônio do estresse) mais do que cenas tristes. Ou seja, a monotonia cansa; e de um jeito mensurável.

O psiquiatra Edward Hallowell vai além. Ambientes desprovidos de novidade visual podem simular sintomas de TDAH até em quem não tem predisposição clínica. “A cidade, quando não oferece estímulo, exige do corpo um esforço maior para manter o foco. Isso contribui para a fadiga mental que tantos relatam no dia a dia”, comenta Jorge Cury, CEO da UMÃ Incorporadora, que defende a urgência de repensar a forma como construímos.

Repensando a forma de construir

Para ele, não basta erguer prédios funcionais. É preciso criar experiências. “Não se trata apenas de estética. Projetar um prédio é projetar uma experiência, e isso tem consequência direta no bem-estar de quem habita ou circula por ali”, explica.

Na UMÃ, incorporadora que comanda, a ideia é justamente desenvolver projetos que dialoguem com o entorno e fujam da lógica padronizada. O empreendimento Casa Genebra, por exemplo, foi concebido como um espaço de convivência e memória, priorizando vínculos afetivos e culturais em vez do enclausuramento.

Essa proposta encontra eco em pesquisas urbanas feitas em cidades como Seattle, onde ruas com fachadas ativas e diversidade arquitetônica mostraram-se capazes de aumentar em até cinco vezes a disposição das pessoas a interagir com desconhecidos. Na contramão, São Paulo segue erguendo torres blindadas e sem contato com a rua. “Essa lógica desestimula o encontro. Ela prioriza o enclausuramento. E isso vai contra tudo o que sabemos sobre qualidade de vida urbana”, critica Cury.

Arquitetura como mediadora de vida

O empresário acredita que a arquitetura pode, e deve, ser mediadora da vida cotidiana. “Um projeto bem pensado não apenas cumpre função, mas gera memória. A pessoa lembra de um trajeto, de um detalhe da fachada, e isso cria pertencimento. É esse vínculo que precisamos recuperar na cidade”, afirma.

Ainda pouco discutida no Brasil, a relação entre arquitetura e saúde mental começa a ganhar espaço e deve pautar os próximos anos. Afinal, se a cidade pode nos cansar, ela também pode nos despertar. Basta que o concreto volte a ser palco de encontros, estímulos e experiências, e não só de passagem.

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