por Antonio Delfim Netto
1. No primeiro século antes de Cristo, o grande Marco Tullio Cícero nos
ensinou, que toda adivinhação tem um pouquinho de verdade e um pouquinho
de torcida, complementadas por uma grande enganação. É exatamente isso que são
as previsões anunciadas por analistas de mercado que o Banco Central recolhe,
ordena (e dá credibilidade) no seu Boletim Semanal, o Focus. Quando se compara
as previsões recolhidas na primeira semana de cada ano com o que efetivamente
aconteceu ao final do ano, tanto para a taxa de crescimento do PIB como para o
saldo em Conta Corrente de 2001 a 2008, verifica-se erros relativos (previsão
menos realizado dividido pela previsão) de magnitudes inacreditáveis (até de
600%!). É por isso que voltamos a insistir: o que será 2009 não está em 2008,
nem está escrito nas estrelas. Ele será o que todos nós e o Governo soubermos
fazer dele com nossa inteligência e ousadia.
2. Nossos adivinhões e astrólogos podem ficar tranqüilos e divulgar suas
previsões, mesmo as mais pessimistas porque o Brasil vive hoje sob a proteção
de uma Constituição democrática efetivamente garantida pelo Supremo tribunal
Federal. Como todo horóscopo elas sempre encontrarão abrigo em alguma alma
inocente. La Latvia, uma ex-república soviética, entretanto, a coisa é
diferente: o abandono do uso do cachimbo não consertou a boca das
autoridades. Um pobre economista, o Sr.Dimitrijs Smirnovs, foi preso e
interrogado durante dois dias pela Polícia Federal para explicar porque fazia
previsões que poderiam desestabilizar o hígido sistema bancário do país. A sua
resposta foi clara mas não convincente: apenas repito o que ouço de outros que
suponho saberem mais do que eu. Está hoje em liberdade vigiada, fazendo para a
polícia a lista dos sabichões, depois do sistema bancário da Latvia ter ido à
glória…
3. Quando se pensa em poluição e a necessidade de reduzir o consumo de
petróleo e seus derivados não temos idéia do que vem por ai. A indústria
automobilística está agora com problemas em todo o Mundo, mas a crise vai
passar. Pois bem, hoje a China tem 50 milhões de veículos (automóveis,
caminhões, ônibus, etc.), o que significa 40 veículos para cada 1.000
habitantes. Os EUA têm 250 milhões: nada menos do que 800 por 1.000 habitantes!
À medida que o desenvolvimento econômico voltar (e o preço dos automóveis for
reduzido pela mudança do design e da tecnologia), o estoque mundial de 900
milhões de veículos vai voltar a crescer à taxa de 3% ao ano, o que significa
mais 30 milhões por ano. Haja combustível verde (etanol) para alimentá-los…