por Antonio Delfim Netto
1. À medida em que o processo competitivo aumenta, os empresários procuram soluções mais criativas. Com o formidável aumento do custo dos combustíveis e o desenvolvimento da tecnologia tornou-se economicamente viável a grandes empresas agrícolas e cooperativas produzirem seu próprio bio-combustível. Há um projeto na Câmara Federal, proposto por um competente e laborioso deputado, Luis Carlos Heinze (PP-RS) que elimina os impostos sobre o combustível produzido para uso próprio, o que pode reduzir os custos de produção na agricultura. O valor do combustível representa mais ou menos 10% do custo total dos produtos agrícolas. Como a agricultura é sujeita a um imenso processo competitivo, é seguro que uma boa parte desses ganhos serão repassados aos consumidores. Seria bom, portanto, vê-lo aprovado rapidamente.
2. Temos sempre nos referido à necessidade das Nações de procurarem pelo menos duas autonomias: a alimentar e a energética. As que têm propensão a ser potência procuram, também, a autonomia militar, o que significa armas atômicas de destruição em massa. O Japão acaba de revelar grande preocupação com sua autonomia alimentar. Como é evidente o Japão, cuja renda per capita é da ordem de 35.000 dólares (em paridade de poder de compra) e representa 6,7% da economia mundial, tem condições de pagar as suas importações de alimentos, mesmo com preços altos. Mas sua preocupação é com uma eventual interrupção do comércio (por uma guerra, ou uma suspensão das exportações por crise nos países produtores). Em 1960, quando o Japão era pobre, produzia 79% dos alimentos que consumia. Hoje produz menos de 40%. A coisa é um pouco mais grave: a produção de trigo caiu de 39% para 15% do consumo e a de soja (o principal produto de consumo) de 28% para 5% no mesmo período.
3. Com referência à autonomia energética, continuam as políticas mundiais para estimular a produção de bio-combustíveis, especialmente agora que a Rússia explora politicamente a sua supremacia nesse campo. De acordo com as informações dadas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), os subsídios europeus, canadenses e americanos para a produção de etanol e biodiesel, que andaram às voltas de 15 bilhões de dólares em 2008, deverão aumentar para qualquer coisa como 25 bilhões de dólares por ano entre 2013 e 2017, certamente com algum efeito sobre os preços dos alimentos. E ainda há quem ache que o Brasil é culpado…