Coluna de Antonio Delfim Netto

1. Os economistas que servem às “democracias” comunistas devem cuidar-se. Em novembro de 2009 a Coréia do Norte colocou em prática um plano de estabilização monetária e trocou a sua moeda (o won norte coreano). Tentava controlar sua taxa de inflação que se acelerava e desorganizava a economia. O plano fracassou e houve problemas de abastecimento. Isso produziu grande irritação popular contra o “guia genial”, Kim Jong-il, justamente agora que ele pretende transferir seu poder para o “sub-guia genial”, seu dileto filho…

2. Não há novidade nisso. Planos de estabilização frequentemente fracassam. Trata-se de um fato comum: 99% dos planos de estabilização do Mundo, postos em prática na base do desespero, têm duração efêmera e logo revelam suas deficiências. No Brasil temos longa experiência. Fizemos meia dúzia de planos até adquirir a “expertise” necessária para obter sucesso com o Plano Real. Mas afinal, qual é a graça disso? É simples: todos os economistas que participaram de nossos planos de estabilização (alguns deles em vários) continuam vivos e com boa saúde. Na Coréia do Norte o autor do plano, o economista Pak Nam-gi (chefe do Departamento de Planejamento do Governo) acaba de ser fuzilado para acalmar a fúria do amado povo de Kim Jong-il.

3. Quando se discutiu a Lei de Responsabilidade Fiscal (que deu ao Brasil e condição necessária para perpetuar a estabilidade monetária), o PT mostrou uma grande miopia. Lutou com unhas e dentes para que ela fosse rejeitada. Felizmente perdeu. Hoje está convertido, mas algumas das tribos que o compõe continuam resmungando e ameaçando-a com sua ignorância.

4. O Brasil corre agora o sério risco de promover um aperfeiçoamento fiscal da mesma magnitude. O competente e diligente senador do Rio de Janeiro, Francisco Dornelles, que foi um dos melhores secretários da Receita Federal que este País já viu, é o relator de uma Lei de Responsabilidade Orçamentária. Se aprovada no Congresso Nacional e sancionada pelo Presidente da República, será a condição suficiente que falta para dar moralidade e segurança definitiva à ordem fiscal no Brasil.

5. A insistência do Partido Comunista Chinês em sustentar a “super-desvalorização” do Yuan. De acordo com estimativas, ela deve ser da ordem de 20% a 40% (enquanto nosso real está “super-valorizado” entre 15% a 20%!) o que dá vantagens imorais à exportação chinesa, e ameaça terminar com a paciência dos sindicatos americanos. Estes atribuem às importações da China parte do seu desemprego, mas não tinham força para corrigir o fato. No momento em que o Obama está com enormes dificuldades internas e que o Congresso enfrentará uma eleição em novembro a composição de forças mudou. A pressão dos sindicatos pode levar a atitudes impensadas de protecionismo cuja conseqüência seria uma desarticulação do comércio mundial.

Por Antonio Delfim Netto

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