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Almoç de PODER: Arnaldo Cezar Coelho || Créditos: Paulo Freitas
Almoç0 de PODER: Arnaldo Cezar Coelho || Créditos: Paulo Freitas

O mais famoso comentarista de arbitragem de futebol do Brasil, autor do bordão “a regra é clara” – tudo que a regra não é, na verdade –, fala de seu começo de carreira como juiz de futebol de areia, dos tempos de natação que o livrou de apanhar, dos seus negócios financeiros e anuncia – segura que lá vem spoiler – sua aposentadoria para viver al mare

Por Dado Abreu / Fotos: Paulo Freitas

Não há tira-teima, VAR, súplica do papa ou qualquer outro recurso que faça Arnaldo Cezar Coelho reconsiderar sua decisão. O principal comentarista de arbitragem da televisão brasileira apontou estoicamente para a marca da cal e, aos 75 anos, irá se aposentar. Até dezembro segue como ‘segunda voz’ e fiel escudeiro do narrador Galvão Bueno nas transmissões futebolísticas da TV Globo. Depois, bon-vivant que é, pretende aproveitar a vida al mare em cruzeiros sem destino e, nas horas livres, administrar os muitos negócios que amealhou ao longo da carreira – entre eles a TV Rio Sul, afiliada da Globo em Resende que Arnaldo gere com enorme prazer e com o know-how de quem também fez fama no mercado financeiro. “Quero sair por aí com a barba por fazer. Não é uma sensação maravilhosa?”, diz o juizão mais querido da torcida brasileira – ou seria o único bem estimado, Arnaldo?

Carioca da gema e de Copacabana, Arnaldo David Cezar Coelho foge à regra clara de que todo perna de pau vira goleiro ou juiz de futebol. “Era esforçado, mediano”, defende-se. Pinta de atleta o jovem Coelho tinha. Poderia ter, inclusive, virado nadador olímpico no início de carreira, nos anos 1960, época de ouro do futebol de areia, quando conhecer as rotas de fuga era mais importante do que dominar as regras do apito. “Cansei de escapar pelo mar. Costumava encerrar as partidas na beira d’água porque assim a torcida, que ficava lá no paredão [antigo calçadão], não tinha tempo de descer e conseguir me alcançar”, diverte-se. “E havia outra vantagem. Além de eu ser um bom nadador, por volta das seis da tarde começava a escurecer e lá fora, no fundo, ninguém me enxergava no lusco-fusco. Tive um relógio que virou à prova d’água de tanto cair no mar depois das peladas.” A destreza aquática ele havia desenvolvido ainda garoto, como auxiliar de salva-vidas em frente ao Hotel Lancaster, na altura da Praça do Lido. Os gringos que se afinavam na folia e sobreviviam à correnteza com a ajuda da molecada costumavam dar gorjetas generosas aos pequenos salvadores.

Almoç0 de PODER: Arnaldo Cezar Coelho || Créditos: Paulo Freitas

Arnaldo relembra os tempos de praia e os clássicos envolvendo Radar, Copaleme, Dínamo, Maravilha, Juventus e Lá Vai Bola, muito mais pegados do que qualquer Fla-Flu, para explicar as mudanças dos tempos atuais. Na semana em que almoça light com PODER no Bio – sugestão do próprio entrevistado, no melhor estilo menu do chef consagrado por ele no programa Bem, Amigos! – a Uefa anunciara que não haverá árbitro de vídeo na próxima edição da Liga dos Campeões. O motivo? A necessidade de aperfeiçoar a polêmica ferramenta. “Está certo! Inventaram um brinquedinho novo e estão se divertindo com isso. E por que eu chamo de brinquedo? Porque estão mexendo com coisa séria, estão mudando a regra do futebol”, critica o criador do bordão-meme “a regra é clara” antes de refutar quem cita as injustiça do erro humano para defender o recurso de vídeo. “Injustiça é um atacante puxar um contra-ataque sozinho e chutar pra fora estando cara a cara com o goleiro.”

Se não anda nada satisfeito com o pomposo “video assistant referee”, o comentarista também faz troça – sempre com o respeito corporativo – dos auxiliares adicionais, aqueles árbitros que ficam ao lado da trave tão somente no Brasil e pouco, ou nada, têm ajudado para evitar a tragédia dos nossos times. É por isso que passou a chamá-los de “vigias”, uma homenagem ao seu Manoel, flamenguista doente e porteiro dos tempos em que Arnaldo morava na Lagoa.
“Um dia ele me interfonou no meio da madrugada. ‘Seu Arnaldo, roubaram o seu Fusca’. ‘Como assim, seu Manoel?!’, respondi doido, atordoado. Vou na janela e vejo o espaço da vaga do meu Fusquinha azul, aquela sensação horrorosa que todo mundo já viveu. ‘Pô, seu Manoel! E você não fez nada?’ ‘Mas, seu Arnaldo, eu só vigio…” E assim nasceu o apelido espirituoso.

A coleção enciclopédica de causos de Coelho – assim era chamado nos gramados pelo mundo – vem da tarimba de quem apitou profissionalmente por mais de 20 anos e esteve em 11 edições de Copa do Mundo – oito comentando pela Rede Globo (entre 1990 e 2018), duas apitando e bandeirando (1978 e 1982) e outra (1974) carregando as malas de Carlinhos Niemeyer, criador do cinejornal Canal 100.

“Foi meu primeiro mundial, assisti in loco o Armando Marques apitando. Eu já era árbitro Fifa, mas meu objetivo mesmo era aparecer na televisão para os meus clientes me verem”, lembra o corretor autônomo de investimentos e ex-dono da Liquidez, companhia vendida para o grupo britânico BGC em 2009. “É que a visibilidade que o futebol me dava ajudava nos negócios. Eu tinha 30 caras no pregão, fazia 13% do mercado da BM&F e era a segunda maior corretora do país.”

Garoto esperto, 75 anos de praia, Arnaldo usa o surfe como metáfora para resumir tantas funções que exerceu ao longo das suas muitas carreiras. Costuma dizer que é um surfista atento na arrebentação. “Se eu ficar segurando a prancha na areia não vou pegar a melhor onda, se eu ficar lá fora, no alto-mar, também não. É preciso estar na hora certa e no lugar certo.”

E, de fato, ele sempre esteve no lugar certo. A começar pela carteira escolar em que se sentou, estrategicamente posicionado, para fazer, em 1964, a prova teórica do curso de arbitragem da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj). “Colei as respostas todas de um cara, bombeiro, porque eu não sabia nada de regra, nunca tinha lido um livro. Só que o filho da mãe do bombeiro, em vez de colocar uma resposta embaixo da outra, escreveu uma do lado da outra, com letras bem miudinhas”, brinca.

Quem dera este fosse o maior problema do aspirante a juiz de futebol. O pior estava por vir. Quando Arnaldo, já estudado e chancelado pela Ferj, decidiu aplicar a regra nas areias de Copacabana, foi que o bicho pegou. O nome da fera: Piroteu. “Dei tiro indireto, em dois toques, e por pouco não levei uma surra do Piroteu. Rapaz, a coxa dele era desse tamanho”, conta Arnaldo, separando os braços exageradamente por toda a mesa do restaurante. “’O que você marcou’, ele me perguntou. Tiro indireto! Você bateu a falta e depois tocou de novo na bola, não pode. ‘Tu tá maluco?! A bola parou no buraco’. Não interessa, não pode.” Oras, a regra é clara, Piroteu.

Lugar ainda mais adequado Arnaldo Cezar Coelho encontrou no gramado do Santiago Bernabéu, em Madri, no dia 11 de julho de 1982. Final da Copa do Mundo entre Itália e Alemanha. Como primeiro árbitro não europeu a apitar uma decisão de Mundial, o brasileiro entrou em campo decidido a sair dele com um mimo debaixo do braço. Lembrou da Copa anterior, a de 1978, na Argentina, quando foi o quarto árbitro – “aquela que segura a plaqueta de substituição” – no Monumental de Núñez no primeiro título dos hermanos. Na ocasião, após o triunfo da Albiceleste sobre a Holanda, Arnaldo burlou os delegados da Fifa, esvaziou a pelota que consagrou Mario Kempes e a colocou na mala do juiz italiano Sergio Gonella, eternamente grato ao amigo brasileiro pelo suvenir.

“Fiquei com isso na cabeça. Aí, na minha vez, em 1982, o jogo foi chegando perto do fim, a Itália vencia por 3 a 1 e eu só pensava em como ficar com a bola. Sabia que não podia encerrar a partida na lateral porque corria o risco do zagueirão dar um bico pra arquibancada. Deixei o jogo correr para o meio, esperei mais uns 30 segundos e quando o alemão foi passar eu me meti na frente.” O resto é história. A foto de Arnaldo Cezar Coelho, de uniforme preto, clássico, erguendo a bola com as duas mãos e o apito na boca é a mais icônica de toda a sua carreira.
Ele se aposentou dos gramados em 1988. Meses depois estava na redação da TV Globo, a convite do saudoso Armando Nogueira, assinando contrato para ser consultor da emissora, posto que irá ocupar até 31 de dezembro e c’est fini. Sem comentários. Deixará de vez o apito, de forma infalível. Até porque erros, embora eles tenham existido, Arnaldo nega. “É como batom na cueca.”

Almoço de PODER: Arnaldo Cezar Coelho || Créditos: Paulo Freitas

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