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Cenas das óperas “Ainadamar” e “Um Homem Só”||Créditos: Divulgação

A segunda apresentação da temporada lírica do Theatro Municipal de São Paulo é pura ousadia. Em vez de se acomodar com uma programação manjada de grandes clássicos, o maestro John Neschling resolveu levar aos palcos duas óperas pouco conhecidas, ambas de autores latino-americanos: a brasileira “Um Homem Só”, de Camargo Guarnieri – que havia sido apresentada apenas uma vez por aqui, em forma de concerto – e a argentina “Ainadamar”, de Osvaldo Golijov, encenada pela primeira vez no Brasil.

A escolha dos títulos, de acordo com o diretor Caetano Vilela, se deu não só pela qualidade musical, mas pela carga dramática dos libretos. De fato, as duas óperas têm uma carga teatral muito intensa, e dialogam com outras vertentes, como os musicais e os cabarés. “Há uma ligação entre as histórias, que abordam, em diferentes visões, o homem em busca da liberdade. José (personagem principal de Um Homem Só) e Federico García Lorca apresentam desajustes sociais. José, um homem perdido, em busca de si; Lorca é um artista homossexual com ímpetos republicanos, perseguido pela falange de Franco. Ambos estão em descompasso com a sociedade que os rodeia”, explica Caetano.

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A ópera “Um Homem Só” tem libreto em português – assinado pelo teatrólogo Gianfrancesco Guarnieri -, e elementos. No elenco, 100% nacional, nomes de destaque como o barítono Rodrigo Esteves – impecável no papel de Iago, na primeira ópera da temporada, “Otelo”, e também nesta montagem. Já a mezzo-soprano Luciana Bueno não estava em um bom dia. Na estreia, nesta quarta, sua voz parecia pequena para a grandiosidade da obra, e foi engolida pela orquestra em várias passagens. O cenário, aliás, é um show por si, com referências do expressionismo alemão e do surrealismo: Magritte e Fritz Lang são as mais claras.

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Em “Ainadamar”, o diálogo entre ópera e teatro musical é ainda mais profundo. A obra de Golijov, de 2003, já foi concebida para abarcar modernidades inaceitáveis para os puristas, como efeitos de música eletrônica e a amplificação das vozes e de parte da orquestra – como previsto originalmente pelo compositor, para compensar os efeitos sonoros usados na obra. Mas os efeitos especiais não se restringiam aos sons: o cenário, mais econômico, era complementado por jogos de luz, chuva de livros e projeções, num espetáculo visual sublime.

Tanto o contratenor italiano Luigi Schifano, que fez o papel de Garcia Lorca, quanto as sopranos Marisú Pavón e Camila Titinger transmitiram com perfeição a dramaticidade da obra – centrada nas memórias da atriz Margarita Xirgu, exilada da Espanha pela ditadura franquista, e de sua relação com Lorca, executado durante a Guerra Civil Espanhola. [Ainadamar – que significa “fonte de lágrimas” em árabe, é o local em Granada onde aconteceu a execução.]

Também merecem destaque a coreografia de Marco Berriel, com participação precisa do ator Jarbas Homem de Mello, e o cantor flamenco Alfredo Tejada, no papel do carrasco Ruiz Alonso. Um prato cheio para quem não se importa de fazer concessões em nome de uma boa dose de diversão.

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Serviço
Quando: 24, 28, 30 de abril e 2 de maio, às 20h; 26 de abril, às 18h
Onde: Praça Ramos de Azevedo, s/nº, São Paulo – SP
Informações: www.theatromunicipal.org.br

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