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Andrucha Waddington faz reflexão sobre a relevância de Chacrinha || Créditos: Reprodução Facebook

Quando Gilberto Gil compôs em 1969 a música “Aquele Abraço”, não foi por acaso que inclui na letra o trecho “Chacrinha continua balançando a pança/E buzinando a moça e comandando a massa/E continua dando as ordens no terreiro/Alô, alô, seu Chacrinha – velho guerreiro/Alô, alô, Terezinha, Rio de Janeiro/Alô, alô, seu Chacrinha – velho palhaço/Alô, alô, Terezinha – aquele abraço!” A canção era na verdade um reconhecimento ao apresentador como um tropicalista revolucionário.

Depois de 30 anos da morte de Charinha, os bastidores de seu legado estão prestes a serem retratados no cinema em “Chacrinha: O Velho Guerreiro”, sob direção de Andrucha Waddington. O elenco conta com Eduardo Sterblitch e Stepan Nercessian na pele do homenageado nas fases jovem e adulta, respectivamente.

Waddington imergiu na história desse ícone da TV brasileira para assumir a “bronca”, afinal, essa será a primeira vez em que a vida do pernambucano José Abelardo Barbosa de Medeiros, nome de batismo, será revelada ao grande público. O longa mostra o lado genial de Chacrinha e releva também sua bipolaridade com todo cuidado que uma boa dramaturgia pede: figurino, maquiagem e direção de arte trabalhando a favor dos anos em que a produção explora, de 1939 a 1982.

Quem quiser potencializar a experiência do cinema – o filme entrou em circuito nacional no dia 8 de novembro – não dá para perder o papo abaixo que tivemos com o diretor, que classifica o longa como um antídoto para curar a ressaca eleitoral que o brasileiro pode vir a sofrer.

Stepan Nercessian na pele de Chacrinha no longa “Chacrinha: O Velho Guerreiro” || Créditos: Suzanna Tierrie

Glamurama: Qual é a relevância da história desse ícone da TV nos dias de hoje?
Andrucha Waddington: “A história dele atravessa momentos históricos. Chacrinha começou a trabalhar durante a Segunda Guerra Mundial, pegou o pós-guerra, passou pela ditadura, e nunca parou de sonhar e animar seu público. Ele estava além de qualquer momento político. Apesar dos acontecimentos, conseguia exaltar a cultura e a arte de maneira popular. Como um cara que aprendeu a gostar das coisas sem julgar, para mim ele é a representação de um ícone pop, a síntese do Brasil que respeita as diferenças. Essa é a singularidade dele, já que foi o primeiro homem a fazer isso. Em um momento em que o país está polarizado e triste, marcado pelo ódio, ele chega no cinema para ajudar na ressaca eleitoral que vamos passar, personificando e exaltando a diversidade cultural brasileira.”

Glamurama: Qual a sua expectativa com a chegada do filme aos cinemas?
Andrucha Waddington: “Atingir o maior número de pessoas possível. O personagem Chacrinha é muito poderoso por ter alcançado, enquanto estava no ar, todas as classes sociais e idades. Por ser um palhaço irreverente, ele agradava desde as crianças até os mais velhos, que caiam na risada, além de classes sociais distintas. Por isso o considero uma personalidade muito poderosa.”

Glamurama: O que foi mais difícil de fazer no filme? 
Andrucha Waddington: “Unificar toda a história de maneira harmônica e colocar o possível “engessamento” de um filme de época a favor da dramaturgia. Conseguimos isso graças a um elenco ótimo e uma equipe maravilhosa. O diretor tem que fazer com que as áreas funcionem em equilíbrio, para que no final tenha um produto fiel.”

Glamurama: Vocês tiveram algum problema com a caracterização dos convidados?
Andrucha Waddington: “Foi um trabalho de pesquisa muito rico, tanto da maquiagem, feito pela Marlene Moura e pela caracterizadora Juliana Mendes, quanto a busca pelo figurino que foi do Marcelo Pies e direção de arte de Rafael Targat, que fizeram com que as caracterizações e reproduções dos cenários da época fossem realistas. Isso era um desafio enorme e acho que fomos muito felizes. Todos esses elementos estiveram a serviço da dramaturgia, e não à frente dela.”

Glamurama: Um detalhe que ninguém pode deixar de reparar no longa?
Andrucha Waddington: “Perceber que Chacrinha era um cara que idolatrava a diversidade, uma mensagem subliminar que, por ser tão importante para os dias de hoje, tem que ser trazida para primeiro plano.”

Glamurama: Chacrinha faria hoje o mesmo sucesso que fez naquela época? A alegria e o politicamente incorreto, nesse momento duro do país, funcionaria?
Andrucha Waddington: “Acho que ele tomaria as mesmas porradas que tomou quando começou a fazer isso, mas autêntico e único. Certeza que ele venceria todos os preconceitos e lutaria muito pra chegar lá, acreditando em seu faro e intuição, como sempre fez. Ele sofreu muito até alcançar o reconhecimento. A elite não gostava dele e para muitos era uma aberração. Nossa memória é do Chacrinha do Olimpo, mas ele comeu o pão que o diabo amassou até virar uma unanimidade e sua grande ferramenta foi apreciar e admirar a diversidade de maneira anárquica, irreverente e politicamente incorreta, mas sem deixar de ser um cara adorável. Todo mundo que passava por lá ria com as barbaridades que fazia, tinham um carinho e um amor muito grande por ele. Fabio Jr., que foi lançado no programa do Chacrinha, chorou copiosamente quando viu o musical. Era encantador.”

Glamurama: E qual a relevância da história desse ícone da TV chegar aos cinemas nos dias de hoje?
Andrucha Waddington: “A história dele atravessa momentos históricos, começou a trabalhar durante a segunda Guerra Mundial, pegou o pós-guerra, passou pela ditadura, e nunca parou de sonhar e animar seu público. Chacrinha estava além de qualquer momento político, porque apesar do que estava acontecendo, ele conseguia exaltar a cultura e a arte de uma maneira popular. Como um cara que aprendeu a gostar das coisas sem julgar, para mim ele é a representação de um ícone pop. Ele é uma síntese do Brasil que respeita as diferenças, essa é a grande singularidade dele, já que foi o primeiro cara a fazer isso. Em um momento em que o país está muito polarizado e triste, marcado pelo ódio, ele chega no cinema para ajudar na ressaca eleitoral que o país estará passando, personificando e exaltando a adversidade cultural brasileira.”

Stepan Nercessian na pele de Chacrinha no longa “Chacrinha: O Velho Guerreiro” || Créditos: Suzanna Tierrie

Glamurama: O longa destaca como ele revolucionou a comunicação. Na sua opinião, depois dele houve um outro apresentador tão poderoso quanto o Chacrinha?
Andrucha Waddington:
“O Chacrinha foi meio que único na comunicação, inclusive deixou muitos “filhos”. Seu estilo de alguma maneira gerou uma matéria-prima que foi e é muito usada como fonte e remodelada até hoje por muitos programas de auditórios. Regina Casé quando faz o ‘Esquenta!’ teve o Chacrinha como inspiração, e o Fausto [Silva] também, desde os ‘Perdidos na Noite’.”

Glamurama: A briga dele com a Globo, sobretudo com Boni, foi bem escancarada na produção. O Boni já assistiu o filme? Fez algum comentário? 
Andrucha Waddington: “Boni é um produtor associado do filme e foi uma fonte importante porque ele conviveu com o Chacrinha desde a época do rádio, e não tem registros de bastidores dos anos 1950, então foi fundamental. Em momento nenhum ele censurou, nunca quis que o filme fosse ‘chapa branca’. Sempre achou que era importante retratar as brigas e todo o drama e dificuldade que marcaram a história do Chacrinha. Isso faz o filme rico e autêntico.”

Glamurama: Chacrinha é apresentado no filme como um workaholic e dono de um gênio difícil, além de um marido e um pai ausente, enquanto no palco é só sorrisos. Conhecer essa dualidade dele pode gerar uma antipatia nas pessoas?
Andrucha Waddington:
“Ele era bipolar diagnosticado. Tomava lítio para se equilibrar, laxante para soltar o intestino, remédio para prender… Saía do programa achando que estava tudo errado e aí ficava obcecado com o da próxima semana. Essa dialética entre Chacrinha e José Abelardo tornava a bipolaridade quase esquizofrênica. Eu não o conheci pessoalmente, mas todos os relatos levam a essa conclusão.”

Glamurama: Você está envolvido em outros projetos? Quais?
Andrucha Waddington:
“Estou filmando a terceira temporada de ‘Sob Pressão’, que estreia em 2019, e finalizando ‘O Juízo’, filme que Fernanda Torres escreveu, com Criolo, Felipe Camargo, Carol Castro, Fernanda Montenegro e Lima Duarte no elenco e que deve ser lançado no meio do primeiro semestre do ano que vem. É um suspense sobrenatural.” (Por Julia Moura)

 

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