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1. O mundo está angustiado com a feroz disputa entre o Congresso Americano e o presidente Barack Obama. Trata-se do aumento da capacidade de endividamento do Tesouro americano que esta semana atinge o seu limite legal. Uma recusa do Congresso (sem nenhuma negociação alternativa de caráter aliviatório que todos esperam) poderia levar os EUA, depois de 250 anos de comportamento impecável no cumprimento de suas obrigações com relação à dívida pública, a ter que fazer um corte dramático das despesas (principalmente nas políticas sociais e na defesa) ou declarar um “default”: pedir prazo para pagar os juros vincendos e, eventualmente, apenas renovar a dívida vencida. Certamente teria de pagar uma taxa de juros real (hoje quase negativa) mais alta, tornando sua situação fiscal ainda mais dramática.

2. As pessoas se perguntam: por que isso nunca aconteceu com celeuma nas inúmeras outras vezes que o Congresso aprovou o aumento do limite da dívida?

3. A resposta é relativamente simples e trágica: porque nunca no passado a situação política no sistema bipartidário americano foi tão peculiar. Primeiro, há um equilíbrio instável no Congresso entre republicanos (que querem o poder) e os democratas (que, com Obama, pretendem conservá-lo). Segundo, a crise econômica melhorou ligeiramente, mas o desemprego continua muito elevado (quase 10%). Terceiro, a política econômica de Obama sofre forte contestação: ela protegeu o desonesto sistema financeiro que produziu a crise sob os olhos complacentes do FED (o Banco Central Americano) em que acumulou lucros fabulosos, em detrimento de quase 25 milhões de honestos trabalhadores que estão total ou parcialmente desempregados. Quarto, às vésperas das eleições presidenciais de 2012, há todo interesse dos republicanos de fazerem o jogo arriscado, mas de alto prêmio (a Presidência da República) de dificultar a vida de Obama.

4. Que o problema é político e não econômico se prova verificando que, em julho (quando a discussão já ia alta), o Tesouro americano vendeu mais de 100 bilhões de dólares com prazo de um mês (para uma demanda de mais de 400 bilhões) a uma taxa de juro de 0,06% ao ano, praticamente negativa! Alguém compraria tais papéis se acreditasse na possibilidade de “default”?

Por Antonio Delfim Netto

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