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Labubu, a criatura de olhos arregalados, dentes salientes e feições entre o grotesco e o encantador, se tornou um inesperado símbolo de status no circuito global da moda. Criado em 2015 pelo artista de Hong Kong Kasing Lung e posteriormente transformado em boneco colecionável pela gigante chinesa Pop Mart, o personagem deixou de ser apenas um brinquedo para ocupar um lugar nas bolsas de celebridades e nos desfiles de marcas de luxo. Agora trata-se de um movimento que combina estratégias de marketing altamente eficazes com um imaginário visual que ressoa profundamente com as novas gerações.

A ascensão de Labubu não pode ser dissociada do fenômeno das “blind boxes”, as caixas-surpresa que alimentam a expectativa e o colecionismo em massa. A Pop Mart, que se tornou uma potência do setor com valor de mercado superior a empresas como Mattel e Hasbro, refinou a fórmula com edições limitadas, colaborações sazonais e escassez cuidadosamente programada. O resultado é um produto que não apenas se esgota rapidamente, mas que multiplica seu valor em revendas, com versões raras alcançando cifras de milhares de dólares no mercado secundário. Em meados desse mês, uma escultura de Labubu foi leiloada por mais de US$ 170 mil (R$ 935 mil).

Mas o que há por trás da popularidade explosiva de uma figura que, à primeira vista, parece saída de um conto sombrio infantil? Parte da resposta está no gosto contemporâneo pelo “ugly-cute”, que é uma estética que desafia os padrões convencionais de beleza ao encontrar graça e singularidade no que seria considerado imperfeito ou estranho. Labubu não é apenas um chaveiro, mas é também um totem de individualidade num universo onde os signos de consumo estão cada vez mais saturados. Carregar um desses monstrinhos é, para muitos, uma forma de sinalizar afeto por mensagens visuais não convencionais, de exibir pertencimento a uma subcultura globalizada e, paradoxalmente, de se destacar.

Grandes nomes da música e da moda embarcaram no fenômeno. Lisa, do grupo Blackpink, foi uma das primeiras celebridades a exibir Labubu publicamente, logo seguida por Rihanna, Cher, Kim Kardashian, Dua Lipa e David Beckham. O objeto virou amuleto pessoal, acessório de luxo e comentário de estilo ao mesmo tempo. Não demorou para estilistas explorarem sua figura em editoriais e coleções-cápsula, reforçando o cruzamento entre cultura pop asiática, mercado de luxo e estratégias de engajamento afetivo com o consumidor. Por fim, virou tanto um produto quanto um personagem, e uma espécie de alter ego coletivo de uma era que busca conforto emocional em objetos com cara de infância pós-moderna.

Mas nem tudo são flores para a Pop Mart. O sucesso massivo de Labubu gerou uma onda de falsificações, apelidadas de “Lafufu”, especialmente nas plataformas de e-commerce do sudeste asiático. Além disso, o modelo de negócio baseado em compras repetidas e aleatórias levantou preocupações sobre consumismo compulsivo e regulação infantil, levando autoridades de Hong Kong e Rússia a examinar com mais rigor os mecanismos de venda da marca. A Pop Mart, por sua vez, busca expandir sua influência para além da Ásia, com lojas em Paris, Nova York e Londres, enquanto lança versões digitais e integrações no metaverso.

No fim das contas, a trajetória de Labubu ilustra como as fronteiras entre arte, brinquedo, moda e luxo estão mais porosas do que nunca. Com um mercado que valoriza histórias tanto quanto produtos, o monstrinho chinês se tornou mais do que uma febre passageira e ganhou status de símbolo de uma economia da atenção baseada em desejo, escassez e afeto. E talvez o mais surpreendente seja que, para além de tudo, ele consiga arrancar um sorriso mesmo com os dentes tortos.

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