Nessa quarta-feira, 23, o presidente francês Emmanuel Macron e sua esposa, Brigitte Macron, moveram uma ação judicial por difamação nos Estados Unidos contra a influenciadora conservadora Candace Owens. A ativista americana alegou, sem qualquer prova, que a primeira-dama teria nascido homem, citando uma teoria conspiratória de viés transfóbico que circula há anos na internet. O casal presidencial busca reparação diante da desinformação viralizada que ultrapassa fronteiras e afeta reputações, mesmo diante da proteção constitucional ao discurso opinativo nos EUA.
A ação evidencia o conflito cada vez mais sensível entre liberdade de expressão e discurso de ódio. No país de Donald Trump, a legislação costuma favorecer manifestações controversas, mas até essa margem encontra limites quando há indícios claros de difamação. Ao optar pelo sistema jurídico americano onde Owens tem sua principal audiência, os Macrons adotam uma estratégia direta para pressionar por retratação pública e conter o alcance global da acusação.
O processo também lança luz sobre como declarações políticas, mesmo infundadas, se tornam combustível para narrativas digitais de alto impacto. Na era das redes sociais hiperconectadas, uma insinuação pode escalar rapidamente para crise diplomática e desgaste institucional. O caso Macron vs. Owens, portanto, não é apenas um litígio e é, ainda, um embate entre soberania e algoritmos, entre reputações públicas e o ruído digital.
Há ainda um gesto simbólico potente. Ao acionar a Justiça fora de seu próprio território, o presidente francês sinaliza intolerância institucional à proliferação de falsidades independentemente de quem as propague. Por outro lado, o movimento levanta preocupações sobre possíveis abusos judiciais por parte de autoridades públicas, que podem usar instrumentos legais para intimidar dissidentes sob o pretexto de combate à desinformação. A fronteira entre correção e censura permanece frágil.
Em última análise, o processo aberto por Macron e sua mulher nos EUA reabre o debate sobre os limites jurídicos da fala no contexto globalizado das plataformas. Ele evidencia como mentiras podem se projetar internacionalmente e ganhar contornos legais e diplomáticos. E, acima de tudo, reforça a urgência por parâmetros claros para lidar com o discurso de ódio online, sem comprometer o pluralismo essencial ao debate democrático.
(Crédito da imagem: Reprodução)
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