Madonna usou suas redes sociais nessa segunda-feira, 11, para enviar um apelo direto ao Papa Leo XIV pedindo que ele visite Gaza diante da grave crise humanitária que afeta a região. Em uma publicação em seu perfil oficial no Instagram, a popstar pediu que o pontífice “leve sua luz às crianças antes que seja tarde demais” e destacou que, como chefe da Igreja Católica, ele teria acesso privilegiado para entrar no território.
“Como mãe, não suporto ver o sofrimento delas. O senhor é o único de nós que não pode ser impedido de entrar. Por favor, peça que as portas humanitárias sejam completamente abertas para salvar essas crianças inocentes”, escreveu Madonna, em uma mensagem que rapidamente ganhou repercussão internacional. O apelo coincidiu com o aniversário de 25 anos de seu filho Rocco, reforçando o tom pessoal e emotivo do pedido.
A eterna “Material Girl” fez questão de esclarecer que não estava assumindo lados no conflito entre Israel e o Hamas, que já dura meses. “Não estou apontando dedos, transferindo culpa ou escolhendo lados. Todos estão sofrendo, inclusive as mães dos reféns”, afirmou, lembrando que a situação atinge também famílias que aguardam a libertação de entes queridos sequestrados.
A declaração ocorre em meio a alertas renovados de agências humanitárias sobre a deterioração das condições de vida na Faixa de Gaza. Segundo dados divulgados pela ONU, milhares de crianças sofrem de desnutrição grave, e o número de vítimas civis cresce a cada semana. Organizações de ajuda internacional apontam que o acesso a suprimentos básicos, como alimentos e medicamentos, está severamente limitado.
O Papa, eleito no início deste ano e primeiro pontífice americano da história, já manifestou em diferentes ocasiões preocupação com o conflito no Oriente Médio. Em discursos recentes, defendeu um cessar-fogo imediato e o cumprimento das leis humanitárias internacionais, ressaltando a necessidade de proteger civis, especialmente os mais vulneráveis. Até o momento, porém, não comentou publicamente o convite de Madonna.
Embora ainda não haja indicação de que a visita papal a Gaza esteja em planejamento, a manifestação da cantora reacende o debate sobre o papel de líderes religiosos e figuras públicas no impulso a negociações e ações humanitárias. Para Madonna, o momento exige urgência: “antes que seja tarde demais” não é apenas uma expressão, mas um alerta para que a comunidade internacional aja rapidamente.
Madonna e a Igreja Católica: Décadas de atrito e um raro gesto de convergência
Madonna e a Igreja Católica têm uma história marcada por provocações artísticas, censuras e confrontos públicos que se estende por mais de três décadas. Desde ‘Like a Prayer’ (1989), cujo videoclipe, repleto de cruzes em chamas e iconografia religiosa reinterpretada, levou o Vaticano a condenar a obra, até apresentações polêmicas como a da turnê ‘Confessions’ (2006), em que a artista encenou uma crucificação no palco, a relação foi pautada por tensão. Bispos e cardeais já a acusaram de blasfêmia, e em mais de uma ocasião autoridades eclesiásticas pediram boicotes a seus shows. Madonna, por sua vez, sempre declarou ter fé pessoal e usar símbolos religiosos como crítica social e convite ao debate sobre liberdade, moralidade e poder.
Essa relação de confronto se refletiu também em seus contatos, diretos ou indiretos, com diferentes pontífices ao longo das décadas. Com João Paulo II, Madonna viveu os episódios mais explosivos, sendo alvo de um pedido formal de boicote na Itália durante a turnê ‘Blond Ambition’ (1990). Sob Bento XVI, continuou provocando a Igreja com encenações e símbolos religiosos, mas evitou ataques pessoais ao papa. Já com Francisco, o tom mudou, e a artista passou a elogiá-lo publicamente por sua postura mais inclusiva e por pautas sociais que considera justas, como a defesa dos pobres e a preservação ambiental.
O apelo ao Papa Leo XIV para visitar Gaza, portanto, não surge no vácuo e representa uma rara intersecção entre a trajetória de rebeldia da cantora e um momento de alinhamento com a autoridade máxima da Igreja Católica. Se no passado Madonna usava a iconografia religiosa para provocar reflexões e desafiar dogmas, agora ela se vale de sua visibilidade para reforçar uma causa humanitária, reconhecendo no pontífice um aliado estratégico.
Essa inflexão não apaga décadas de tensão, mas evidencia que, em determinadas circunstâncias, figuras historicamente opostas podem se encontrar no mesmo lado de uma pauta urgente. Ao transformar seu histórico de polêmica em uma plataforma de advocacy, Madonna adiciona uma nova camada à sua relação com o Vaticano não mais como antagonista, mas como interlocutora em uma conversa que, pela primeira vez em muito tempo, parece buscar o mesmo objetivo: proteger vidas.
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