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O Filho Eterno

A Jornada Internacional de Passo Fundo foi adiada de agosto para outubro, mas o Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon, que seria anunciado durante o evento, foi divulgado nessa quinta-feira, 3, e o vencedor foi o escritor Cristóvão Tezza, pelo livro “O Filho Eterno” (Record, 2007). Ele venceu grandes nomes como Saramago, Chico Buarque e João Gilberto Noll.

* Tezza já ganhou outros prêmios literários importantes por esse mesmo livro: o Prêmio da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) de melhor obra de ficção de 2007. Em 2008, recebeu o Jabuti de melhor romance, o Bravo! de melhor obra, o Portugal-Telecom de Literatura em Língua Portuguesa (1° lugar) e o Prêmio São Paulo de Literatura, melhor livro do ano. O romance também está traduzido na Itália, França, Holanda e Austrália, entre outros países. Assim que soube da premiação, Tezza conversou de Curitiba (onde mora) por telefone com a coluna. Abaixo trechos da entrevista.

* Como recebeu a notícia de mais um prêmio para “O Filho Eterno”?

CT – Sinceramente eu não esperava, o livro já ganhou tantos prêmios, pensei que fossem dar chance para outro escritor. Mas isso é ótimo, R$ 100 mil fazem muita diferença, é mais um passo em direção ao meu projeto de abandonar a universidade (ele é professor de língua portuguesa e linguística na UFPR) e viver só da literatura.

* De um tempo para cá, os prêmios literários nacionais têm concedido quantias relevantes, o São Paulo de Literatura, por exemplo, oferece o valor de R$ 200 mil.

CT – É verdade, acho que os incentivos fiscais da Lei Rouanet às fundações culturais têm muito a ver com isso. Mas também é preciso ver que a literatura vive um momento bastante próspero. Acho que isso se deve muito à internet que tem promovido a intensa circulação de textos e de livros em blogs, sites etc. Eu fui bicho grilo, comecei tarde na literatura com 34 anos (hoje, está com 57 anos), e nessa época, nos anos 1970 e 1980, o que havia no Brasil era um deserto literário.

* Sendo professor de língua portuguesa, como vê a escrita na internet. Há uma corrente na Academia que julga se tratar de uma deturpação da língua portuguesa.

CT –Tenho conhecimento dessa corrente, mas sou contra. A internet é um outro registro de escrita que não tem a ver com as regras da língua culta, e isso precisa ser entendido. É um código novo, uma oralidade escrita. Antigamente, o telegrama, por exemplo, tinha suas formas próprias de escrita para que as palavras ficassem mais curtas e, portanto, ficasse mais barato. Agora, as pessoas escrevem de uma forma diferenciada na internet para serem mais rápidas.

* Acha que o sucesso de “O Filho Eterno” se deve ao fato de o livro relatar sua experiência com seu filho (Felipe, nascido em 1980) que é portador de síndrome de Down?

CT – Muitos leitores podem ler o livro por isso, mas, com certeza não é só isso. Este livro é a culminância de minha maturidade como escritor. Além disso, foi um tema muito difícil de desenvolver sem cair numa esparrela sentimental. O livro fala de meu filho, mas traça, sobretudo, o retrato de uma geração.

A princípio, “O Filho Eterno” tem todos os indícios de um romance autobiográfico pelas semelhanças entre a vida do protagonista e de Cristóvão Tezza, incluindo o fato de terem um filho com síndrome de Down. E não apenas isso. Um outro exemplo é o fato de, assim como o protagonista, o escritor ter vivido em Coimbra durante o período pós-revolucionário, quando Portugal estava “quase em chamas” e se sucediam os governos provisórios.

* Mas o livro é narrado em terceira pessoa, e esta foi uma das estratégias narrativas que Tezza adotou para se distanciar do drama do personagem e evitar um relato sentimentalóide. E isso ele consegue genuinamente, mesmo falando das inúmeras dificuldades, e também das vitórias conquistadas, na criação de um filho com síndrome de Down, e usando as questões que apareceram nesse processo para falar de superações em sua trajetória pessoal e profissional. * De todo jeito, não passa despercebida uma das epígrafes, retirada de Kierkegaard, na qual o filho é equiparado a um “espelho no qual o pai se vê”.

Por Anna Lee

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