CALÚNIA
A Guerra do Paraguai (1864-1870) – o mais violento conflito da história da América do Sul, entre esse país e a Tríplice Aliança: Brasil, Uruguai e Argentina – é retratada no livro “Calúnia – Elisa Lynch e a Guerra do Paraguai”, dos historiadores irlandeses Michael Lillis e Ronan Fanning, sob o olhar de Elisa Lynch, a companheira irlandesa do ditador paraguaio Solano López. A obra, publicada simultaneamente em português (Terceiro Nome), inglês (Gill & Macmillan) e espanhol (Grupo Santillana), será lançada nessa terça-feira, 29, às 18h30, na Livraria da Vila da Fradique, quando também haverá uma mesa-redonda com o psicanalista Renato Janine Ribeiro, o historiador Ricardo Maranhão e o autor Michael Lillis. No Rio, o lançamento e a mesa-redonda acontecem na terça-feira, 6 de outubro, no Museu da República, às 18h30.
* Há muitas lendas em torno de Elisa Lynch. Para alguns, ela foi heroína nacional do Paraguai, para outros, prostituta maquiavélica que teria seduzido Solano López. O fato é que o ditador paraguaio e a amante foram figuras típicas dos regimes totalitários que praticavam o assassinato como arma política e se refestelavam em luxos e banquetes enquanto o povo passava fome.
* Solano López conheceu Elisa numa “casa de encontros” em Paris. Apaixonou-se por ela e levou-a para Assunção, já grávida de seu primeiro filho. Logo, ele se tornaria marechal-presidente, e a “prostituta irlandesa”, como era chamada pelos inimigos, passaria a dominar a sociedade local. Construiu palácios, impôs os gostos parisienses na corte de Solano López, incitou o amante a degolar adversários políticos e foi uma das vozes a apoiar a guerra. De outro lado, há quem diga que Elisa Lynch foi o suporte de Solano López em tempos de paz e também de guerra, esteve presente em todos os momentos de sua vida até sua morte, deu-lhe apoio incondicional. López foi morto numa batalha, já Elisa Lynch morreu miserável no exílio parisiense.
* Os autores de “Calúnia” pesquisaram em fontes primárias em Assunção e em Paris, analisando documentos e arquivos de família até então inéditos, e, embora não façam grandes revelações, ajudam a esclarecer detalhes da vida privada de Madame Lynch, como também era chamada, e de sua real influência sobre o governante que decidiu no fim de 1864 declarar guerra ao Brasil, e depois à Argentina e ao Uruguai. Ele começou o confronto com um exército poderoso de 50 mil homens. Cinco anos depois, suas forças armadas não passavam de uma legião de adolescentes e crianças famintos e maltrapilhos. A aventura bélica de López foi responsável pela morte de 90% dos homens paraguaios e de 50% das mulheres e crianças do país, que precisou de três gerações para recompor sua população.
* “Calúnia”, além do cotidiano da guerra – consta que Elisa costumava acompanhar o amante nas primeiras e vitoriosas campanhas da disputa, quando fazia discursos inflamados aos soldados – mostra também a cultura e os padrões de conduta dos cidadãos paraguaios da segunda metade do século 19 e os bastidores do poder.
Por Anna Lee