DOCEIRA E POETA
Os versos de Cora Coralina (1889-1985) sempre foram conhecidos por sua doçura, por isso, nada mais normal que também despertassem em seus leitores o desejo de provar dos doces que a poeta fazia. Sim, Cora Coralina era doceira de mão cheia, uma atividade a que se dedicou para sustentar os seis filhos depois que ficou viúva. Se não é mais possível provar dos quitutes feitos por Cora Coralina, pelo menos, agora, se pode experimentar suas receitas, que a editora Global acaba de publicar no livro “Cora Coralina – Doceira e Poeta”, em comemoração aos 120 anos que a poeta completaria este ano.
* Por conta desta data, também está sendo realizada, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, a exposição "Cora Coralina – Coração do Brasil", até 13 de dezembro, com curadoria de Júlia Peregrino e cenografia de Daniela Thomas e Felipe Tassara. A mostra contém um grande painel com imagens do universo da poeta, manuscritos, cartas, livros, recortes de jornais, revistas e fotografias. Cora Coralina, que nasceu Ana Lins dos Guimarães Peixoto, na cidade de Goiás, despontou na literatura brasileira como uma de suas maiores expressões na poesia moderna, quando já tinha76 anos. Na verdade, iniciou sua carreira literária aos 14 anos publicando o conto “Tragédia na Roça”, mas depois se casou, teve filhos, ficou fora de Goiás por 45 anos.
* Somente quando voltou à terra natal que, nas horas vagas, entre as panelas e o fogão, em que preparava seus doces, passou a se dedicar a escrever versos. E, mesmo tendo estudado somente até o equivalente ao 2º ano do Ensino Fundamental – acabou por receber o título de doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de Goiás e o Prêmio Intelectual do Ano, sendo, então, a primeira mulher a receber o troféu Juca Pato.
* Enquanto a equipe organizadora do livro decidia, entre diversos cadernos amarelados pelo tempo, quais receitas seriam publicadas, percebeu que Cora Coralina, mesmo tendo morado mais de quarenta anos no estado de São Paulo, manteve durante toda sua vida uma profunda relação com os costumes goianos, em especial com a cidade de Villa Boa de Goyaz. Na publicação, algumas delas foram atualizadas, com redução ou substituição de ingredientes, quando as originais continham, por exemplo, uma grande quantidade de ovos, ou banha de porco. Entremeando as receitas, há fotografias, ilustrações (de Claudia Scatamacchia) e poemas. É um livro de encher não só a boca d’água, mas também de fartar os olhos e a alma.
DO PRINCÍPIO AO FIM
Começou nesta sexta-feira, 2, e vai até o dia 12 deste mês, a sétima edição da Bienal Internacional de Pernambuco, que neste ano tem o tema “Literatura do Princípio ao Fim”. Um dos convidados do evento é o escritor cubano Pedro Juan Gutiérrez, autor do célebre “Trilogia Suja de Havana” (Alfaguara), publicado pela primeira vez nos anos 1990 e que se transformou num marco da literatura latino-americana. Esse livro é em grande parte autobiográfico, mistura realidade e ficção para compor um conjunto de histórias sobre o cotidiano de Cuba em plena crise econômica.
Por Anna Lee