NA ESTANTE Por Anna Lee

CINCO EM UM

Pode-se dizer que o escritor argentino Júlio Cortázar (1914-1984) exerceu quase todos os gêneros literários. “O Jogo da Amarelinha”, que é considerada sua obra-prima, é um romance. Mas arrisco dizer – obviamente apoiada não só em minhas leituras, mas em considerações de críticos literários – que Cortázar foi acima de tudo um grande contista.

Isto pode ser constatado facilmente no livro “As Armas Secretas”, cuja reedição a editora Civilização Brasileira acaba de lançar. Originalmente, ele foi lançado em 1959, e, no Brasil, em 1994, pela editora José Olympio.

A obra, com tradução de Eric Nepomuceno, contém cinco contos:

“As Babas do Diabo”, que foi levado para o cinema por Michelangelo Antonioni, produzindo “Blow-up” (“Depois Daquele Beijo”). Uma fotografia casual do que parecia ser uma entre tantas coisas de um cotidiano inofensivo se revela a pretensão de um crime quase cometido, e leva o fotógrafo a uma estranha obsessão.

“O Perseguidor”, tido pelo próprio autor como um divisor de águas em sua literatura, que, inspirado no saxofonista Charlie “Bird” Parker, conta a história de John Carter, um músico de jazz negro, primoroso e excêntrico.

“Cartas de Mamãe”, no qual Cortázar trabalha com tempos alternados na história dos irmãos que se apaixonam pela mesma mulher. Um jovem casal, que mora em Paris, habitua-se com as cartas que a mãe do rapaz remete, falando de trivialidades do cotidiano. Até que numa delas, o que parece ser uma confusão de nomes devido à idade avançada da senhora, trás de volta o passado do qual nunca se desvencilharam e que se mantinha como um constrangedor tabu entre eles.

“Os Bons Serviços”, que tem como personagem central uma senhora humilde que é contratada para um trabalho inusitado em uma mansão durante uma festa. No dia seguinte, é novamente contratada para outro trabalho ainda mais estranho, conseqüência da noite anterior. Na narrativa, parece não haver nada demais nos acontecimentos, mas, ao mesmo tempo, tem-se de que a qualquer momento a estrutura do cotidiano se dissolverá numa complexa armadilha.

“As Armas Secretas”, que dá título ao livro, fala de um jovem que anseia pela primeira noite com sua namorada. Quando a oportunidade finalmente chega, o estranho se embrenha entre ambos e um mistério sugere traumas e coincidências inexplicáveis.

Por Anna Lee

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