RACHEL DE QUEIROZ CENTENÁRIA
Quando a escritora Raquel de Queiroz (1910-2003) estreou na prosa com “O Quinze” (1930), deixou perplexos escritores como Graciliano Ramos, que, diante de seu texto vigoroso e enxuto, achou que “Rachel de Queiroz” tratava-se de um pseudônimo, e concluiu: “É homem.”
Graciliano estava enganado. O romance não só era de uma “garota”, na época Raquel tinha pouco menos de 20 anos, como, dois anos antes, ela já havia escrito diversos poemas, inéditos até agora, que o Instituto Moreira Salles acaba de reunir no livro “Mandacaru”, organizado pela pesquisadora Elvia Bezerra, como parte das comemorações do centenário de nascimento da escritora, neste 17 de novembro.
Os dez poemas que compõem a publicação foram descobertos no Fundo Rachel de Queiroz do Instituto Moreira Salles e, como comenta Elvia Bezerra, também Coordenadora de Literatura do IMS, em texto publicado no site do IMS, apesar de o intelectual Antônio Carlos Villaça ter afirmado que “toda a obra posterior” de Rachel de Queiroz está em “O Quinze”, “a publicação de ‘Mandacaru’ vem mostrar que esse ‘posterior’ tem como referência, no passado, uma data anterior a ‘O Quinze’. Antes dele, constata-se agora com a publicação dos poemas, a autora tratou de temas e personagens que desenvolveria não só nos romances, como também nas crônicas e no teatro”.
“Em ‘Mandacaru’ encontram-se várias personagens da mitologia cearense: Bárbara de Alencar, a heroína ‘varonil e política’ que esteve ao lado do filho, Tristão de Alencar, durante a participação do Ceará na Confederação do Equador; aí se projeta o Padre Cícero, que tinha chegado a Juazeiro do Norte – descreve Rachel em crônica – ‘menino, mentiroso e angélico’; aí surge Lampião, ‘um homem muito cortês’ – personagem da peça de mesmo nome que ela publicaria em 1953; aí se distingue o jangadeiro abolicionista Nascimento, conhecido como Dragão do Mar, a quem ela homenageia na crônica ‘O dragão do mar e outros dragões’”, escreve Elvia Bezerra.
Todos os poemas de “Mandacaru” são datados de 1928 e vêm acompanhados de fac-símiles dos manuscritos. Entre eles estão: “O êxodo”, “Meu padrinho” e “Lampião”.
Além do lançamento deste livro, o Instituto Moreira Salles programou outros eventos para comemorar o centenário de Raquel de Queiroz, como a exposição “Raquel de Queiroz Centenária”, de 18 de novembro a 16 de janeiro, com curadoria de Eucanaã Ferraz. A mostra é uma apresentação da vida e da obra da escritora a partir dos documentos originais que compõem seu acervo, sob a guarda do IMS desde 2006. São fotos, projetos de capa, programas de peças de teatro, caricaturas, documentos pessoais, manuscritos – objetos que nunca foram expostos, como as ilustrações originais que abriam cada capítulo do romance O galo de ouro, datadas de 1951.
Para conferir a programação completa, acesse o link:
http://ims.uol.com.br/Cinema/D17/P=521
por Anna Lee