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CLARICE E ESPINOSA, TÊTE-À-TÊTE

O lançamento nesta semana de “Desejo, Paixão e Ação na Ética de Espinosa” (Cia. das Letras), de Marilena Chauí, e a publicação da versão pocket da biografia de Clarice Lispector, “Clarice,”, do norte-americano Benjamin Moser, anunciada para breve pela Cosac Naify, me inspiraram a pensar num tête-à-tête entre o filósofo, por meio da obra de Chauí, e a obra da escritora brasileira.

* Na verdade, é Moser quem faz essa associação, quando, por conta da descoberta tardia, na biblioteca de Clarice, de uma antologia francesa de Espinosa (1632-1677), sugere que muitos conceitos deste filósofo judeu aparecem nos livros da escritora, especialmente em “Perto do Coração Selvagem”(Rocco). Então, imaginei que poderia ser interessante uma leitura simultânea das obras sugeridas acima.

* O livro “Desejo, Paixão e Ação na Ética de Espinosa” consiste em oito ensaios, originalmente, textos para conferências ou artigos avulsos, de Marilena Chauí. A autora adota o espírito seiscentista de recusar uma contingência inapreensível pela razão e buscar pelo exercício lógico a compreensão das paixões humanas para um quadro amplo e claro dos principais conceitos espinosanos, ilustrando-o ora com textos literários nacionais e universais, ora com o rico diálogo entre Espinosa e seus contemporâneos.

* Já Clarice Lispector percorre, em “Perto do Coração Selvagem” (sua obra de estreia), os meandros de Joana, coração e cérebro, a sua visão de mundo e interação com os demais personagens que se ligam a ela por estranhas artérias e nervos. São eles: o pai prematuramente falecido, incentivador das brincadeiras na infância; a tia assustada com as estripulias da órfã, a quem chama de víbora; o tio fazendeiro, afetuoso com Joana e indiferente diante das reclamações da mulher; o professor confidente e orientador (como a paixão da puberdade); Otávio, o rapaz que se casa com Joana ao romper o noivado com Lígia; e ainda a própria Lígia e o homem sem nome. Voilà, proposta feita.

Por Anna Lee

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