Nessa quarta-feira, 23, fazem exatos 15 anos desde que um quinteto de garotos britânicos – Harry Styles, Zayn Malik, Liam Payne, Louis Tomlinson e Niall Horan – foi unido em um reality show chamado The X Factor e rebatizado de One Direction. O grupo, formado por acaso televisivo, se tornaria um fenômeno global, redefinindo os parâmetros de sucesso pop na era das redes sociais emergentes.
Mas a pergunta inevitável que paira hoje, ao revisitar esse marco cultural, é: em pleno 2025, seria possível o surgimento de um novo One Direction? A resposta, como quase tudo na indústria da música contemporânea, depende dos ‘ângulos’ do algoritmo, do streaming, do TikTok, e claro, da nostalgia que ainda impera como força motriz no consumo cultural de massa.
A indústria da música de 2010 a 2025: De CDs ao streaming de sensações
Quando o One Direction surgiu, em 2010, o mundo ainda era movido a álbuns físicos, rádios dominantes e videoclipes lançados com pompa no YouTube. O Spotify engatinhava, o TikTok nem existia (e o Musical.ly, então, mal havia nascido…). O consumo musical era mais linear, menos fragmentado. A fórmula do sucesso ainda passava por gravadoras, grandes campanhas promocionais e turnês multimilionárias.
Atualmente, a lógica se inverteu. Artistas não são mais “lançados”, eles simplesmente “viralizam”. A curadoria saiu das mãos dos executivos e foi entregue aos algoritmos. O TikTok, com seus vídeos de 15 a 60 segundos, transformou artistas em produtos de clipe, e faixas em trilhas virais de challenges e trends. Nesse novo mercado no qual uma música de 20 segundos pode bater mais que um álbum inteiro, o conceito de uma boy band tradicional, com desenvolvimento artístico coletivo e fidelização emocional de longo prazo, parece quase um anacronismo.
O novo pop é atomizado
Enquanto o One Direction reinou por meia década com fandoms globalizados e recordes de vendas, a cultura pop de 2025 é dispersa, pulverizada em nichos que mal se tocam. Há menos espaço para fenômenos monolíticos e mais campo para o crescimento lateral, multiplataforma e multigênero. Ao invés de uma boy band dominar a paisagem musical, temos dezenas de artistas (homens, mulheres e não-binários) construindo legiões de seguidores em universos paralelos digitais.
O pop atual não é um estádio lotado, mas um emaranhado de timelines
Artistas como Lil Nas X, Olivia Rodrigo, Billie Eilish, Bad Bunny, e os brasileiros como Matuê, Ludmilla e Xamã, se tornaram fenômenos não pela construção midiática tradicional, mas por sua capacidade de dominar plataformas, mobilizar microcomunidades e moldar estéticas. Ninguém esperaria um grupo como o One Direction nascer no TikTok, porque a cultura da individualidade e da estética pessoal ganhou supremacia sobre o ideal de coesão de grupo.
O fator reality show perdeu relevância?
Outra diferença crucial é o fato de que o One Direction nasceu em um programa de televisão. Em 2025, a TV linear enfrenta sua irrelevância. A maioria dos adolescentes de hoje nunca assistiu a um episódio completo de The X Factor ou American Idol, e programas como The Voice seguem no ar apenas por inércia institucional. O palco de revelação atual é o feed, não o auditório.
Se um produtor tentasse hoje repetir a fórmula de juntar cinco jovens carismáticos e lançá-los como grupo pop em rede nacional, o risco seria de indiferença. Não por falta de talento, mas porque o conceito de grupo pop orquestrado soa pré-fabricado demais para uma geração obcecada por autenticidade. Mesmo que, ironicamente, a autenticidade seja cada vez mais simulada.
Mas… E se surgisse um novo One Direction?
Mesmo diante desse cenário transformado, não é impossível imaginar um novo grupo adolescente explodindo, mas seria de outro jeito. Talvez não mais um quinteto britânico produzido por Simon Cowell, mas uma banda diversa, fluida em gênero e nacionalidade, moldada desde o início para a linguagem do TikTok, dos Reels, da estética dos games e dos filtros da cultura Y2K.
E a verdade é que alguns projetos tentaram. O Now United, idealizado por Simon Fuller, e grupos K-pop como BTS e Stray Kids mostraram que há, sim, espaço para fenômenos em grupo, mas exigem um ecossistema cultural coeso, disciplinado e multimídia, como o da Coreia do Sul, para vingar. O Ocidente, por sua vez, parece hoje mais interessado em construir superestrelas individuais do que marcas coletivas.
Há também um obstáculo prático: a monetização. Grupos pop, por definição, exigem mais investimento, mais logística, mais divisão de lucros. Em um segmento em que artistas independentes conseguem operar com equipe reduzida e retorno direto, montar uma boy band é quase um luxo. Ou um risco financeiro considerável.
O legado do 1D: Mais profundo do que parece
Mesmo que a lógica atual da indústria dificulte o surgimento de novos fenômenos como o One Direction, seu legado persiste. Os integrantes seguiram carreiras solo com diferentes graus de sucesso, sendo Harry Styles o que mais rompeu a barreira pop-fashion-artística. Mais importante ainda, o 1D influenciou diretamente uma geração de fãs que hoje são criadores, curadores, influenciadores e até executivos na indústria.
Além disso, há uma nostalgia latente especialmente agora, com os 15 anos de formação do 1D, que reacende campanhas por uma reunião (ainda improvável). O impacto cultural do grupo transcendeu a música e foi comportamental, emocional, estético.
Tendências vêm e vão com a velocidade de um scroll, e é significativo que estejamos falando deles uma década e meia depois. O 1D sobreviveu ao colapso do CD, ao boom do streaming, ao domínio do TikTok e, talvez, sobreviva ao tempo como um dos últimos suspiros de uma era mais inocente e linear do pop global.
Em 2025, a pergunta talvez não seja “onde está o novo One Direction?”, mas sim: Ainda existe espaço para que o mundo se apaixone coletivamente por algo novo?
Talvez sim. Mas, se acontecer, será em outro idioma, em outro formato e muito provavelmente dentro de um vídeo de 19 segundos, consumido antes que alguém consiga decorar o refrão de um hit descartável.
One Direction em números: O legado em cifras
Mesmo tendo encerrado oficialmente suas atividades em 2016, o One Direction continua sendo um dos maiores fenômenos comerciais da música pop do século 21. Seus números impressionam, mesmo quando comparados a artistas que vieram depois em um cenário digitalmente mais favorável.
Álbuns vendidos: Mais de 70 milhões de cópias no mundo todo, somando vendas físicas e digitais.
Streams: A discografia do grupo ultrapassa 15 bilhões de reproduções no Spotify, mesmo quase uma década após a pausa.
YouTube: Seu canal oficial acumula mais de 12 bilhões de visualizações, com clipes como What Makes You Beautiful e Story of My Life ainda figurando entre os mais assistidos da plataforma.
Turnês: A Where We Are Tour (2014) arrecadou cerca de US$ 290 milhões (R$ 1,6 bilhão), entrando para a história como a turnê de uma boy band mais lucrativa da história até então.
Ao todo, estima-se que o One Direction tenha gerado mais de US$ 1 bilhão (R$ 5,6 bilhões) em receitas diretas, incluindo vendas, turnês, produtos licenciados e contratos publicitários, e isso sem contar os bilhões em impacto indireto em plataformas, marcas e cultura pop.
E mesmo em hiato há quase 10 anos, o grupo segue rentável. Em 2024, os royalties somados da banda ultrapassaram US$ 12 milhões (R$ 66,7 milhões) em um único ano, demonstrando que o fenômeno pode estar em pausa, mas nunca foi desligado.
(Crédito da imagem: Reprodução)
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