O filme A House of Dynamite, novo thriller de Kathryn Bigelow, reacendeu um antigo desconforto entre Hollywood e o Departamento de Defesa dos Estados Unidos. A trama imagina um ataque nuclear em território americano e a falha completa dos sistemas de interceptação do país — um cenário de colapso militar e caos político que, segundo o Pentágono, está longe da realidade. A repercussão foi tamanha que o órgão emitiu um memorando interno orientando funcionários a não tratarem o filme como referência factual sobre a defesa antimísseis.
O documento, divulgado pelo site Task & Purpose, descreve o longa como “um retrato incorreto e alarmista” da estrutura militar norte-americana. No enredo, um míssil balístico intercontinental escapa à detecção e atinge o território dos EUA, expondo vulnerabilidades na cadeia de comando. O Pentágono afirma que, embora falhas técnicas sejam possíveis, os sistemas de alerta e interceptação são testados regularmente e contam com redundâncias para evitar exatamente o tipo de colapso mostrado por Bigelow.
Especialistas civis consultados por veículos como Bloomberg e WCLK confirmam que o filme mistura realismo tático com exageros dramáticos. A ambientação de bastidores políticos e militares é considerada convincente, mas a hipótese de um único míssil isolado atravessar todas as defesas americanas é amplamente rejeitada. Em situações reais, explicam, qualquer lançamento detectado geraria uma resposta automática, envolvendo satélites, radares e múltiplas camadas de interceptores.
A reação do Pentágono, no entanto, evidencia o poder da ficção em moldar percepções sobre segurança nacional. Ao sugerir que o país mais poderoso do mundo poderia ser pego de surpresa, A House of Dynamite desperta o tipo de ansiedade pública que a própria máquina militar tenta conter. É por isso que o memorando interno teve tom preventivo, servindo para proteger a credibilidade da defesa nacional tanto quanto esclarecer o público interno.
O episódio revela o desconforto de instituições quando confrontadas por narrativas que testam sua imagem de invulnerabilidade. Bigelow, conhecida por retratar zonas cinzentas entre heroísmo e falha humana, reacende o debate sobre até que ponto o cinema deve — ou pode — dramatizar os bastidores da guerra sem provocar reação do poder que pretende retratar.
(Crédito da imagem: Reprodução)
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