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Por Guilherme Abdalla para a Revista PODER de julho || Ilustração iStock

No século 5 a.C. um grupo de crianças está ajoelhado nos degraus da entrada do palácio do líder da nação. Querem entender o porquê da onda mortífera que golpeia a cidade, a morte dos rebanhos, as pragas nos frutos e a infertilidade das mulheres. O chefe de estado, Édipo, que havia livrado seus súditos de desgraças anteriores, não encontra resposta entre os homens, mas numa ordem do deus Apolo: “Limpar a imundície que corrompe este país e não deixá-la crescer até que se torne inextirpável”. Para livrar seu povo da maldição, Édipo deveria encontrar e punir o assassino de Laio, seu antecessor no governo e então marido de Jocasta, sua atual esposa. Segundo Apolo, a tarefa seria traumática, mas o culpado estava por perto e poderia ser descoberto.

Depois de idas e vindas, Édipo e seus conselheiros finalmente percebem que, por ironia de certo destino, a resolução do enigma estava muito mais perto do que imaginavam. É que, sem saber, Édipo matara o próprio pai, Laio, e desposara a mãe, Jocasta, condenando seu país ao infortúnio até que a desonra fosse desfeita. Ao final, Édipo é condenado.

Essa história foi contada por Sófocles em Édipo Rei, uma das sete das 120 peças que o filósofo grego escreveu e que restaram intactas. Seu conhecimento da natureza humana extrapola os palcos e nos faz pensar se o Brasil está condenado à maior crise já vivida até que a desonra de seus líderes seja encarada de frente. Com ou sem intenção, assistimos ao assassinato político da presidente Dilma Rousseff; com ou sem bases sólidas, vimos uma pequena reabilitação do país e, com ou sem cegueira deliberada, sabemos que não haverá nova derrocada somente se descortinarmos de vez a fonte de todo o mal, de toda a imundície que está por perto desde o início. Édipo teve honra e coragem de encarar seu destino para salvar seu povo. Nossos líderes terão?

Guilherme Abdalla é advogado e mestre em filosofia e teoria geral do Direito pela USP. Para ele, o poder é a essência de todas as relações.

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