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Kurts Adams Rozentals, jovem promessa da canoagem slalom britânica, se tornou recentemente manchete ao revelar que foi suspenso do programa de elite da Paddle UK (o órgão regulador do Reino Unido para esportes de remo) após decidir monetizar sua trajetória esportiva por meio de uma conta no OnlyFans. Desde janeiro, o atleta de 22 anos publicou 39 vídeos e mais de 100 fotos na plataforma, arrecadando mais de £100 mil (R$ 748 mil), valor muito superior à bolsa anual de £16 mil (R$ 119,7 mil) oferecida pelo UK Sport, um montante considerado insuficiente para cobrir os custos de vida e treinamento em Londres.

A decisão da Paddle UK veio depois de denúncias sobre o conteúdo considerado “ousado” nas redes sociais do atleta. Em entrevistas, Rozentals afirmou que sua presença no OnlyFans foi motivada por necessidade financeira real, destacou que sua mãe trabalha até 90 horas semanais para ajudar a manter a casa e revelou que enfrentou problemas legais nos últimos meses, que comprometeram ainda mais sua estabilidade econômica.

Para muitos atletas, o subsídio oficial representa apenas uma base mínima em meio a uma equação financeira cada vez mais desafiadora. O caso de Rozentals lança luz sobre uma tendência crescente entre esportistas britânicos e europeus – inclusive medalhistas olímpicos – que passaram a recorrer ao OnlyFans como fonte alternativa de renda e autopromoção.

Para esse grupo, a plataforma representa uma forma eficaz de escapar das exigências tradicionais de patrocínio, sobretudo quando a imagem considerada “limpa” não atrai visibilidade nem retorno publicitário suficientes. Rozentals resumiu sua escolha com uma máxima pragmática: “If you can’t beat them, join them” (“Se não consegue vencê-los, junte-se a eles”).

Já a postura da Paddle UK revela a persistência de um estigma no esporte olímpico em relação ao corpo e à sexualidade. A política disciplinar da entidade define o uso de plataformas como o OnlyFans como “má conduta grave” e classifica a publicação de conteúdo “ofensivo” nas redes sociais como passível de sanção. Tal enquadramento expõe o choque entre a preservação da imagem institucional e a necessidade de revisar tabus persistentes no universo esportivo de alto rendimento.

Rozentals definiu sua suspensão como “a coisa mais difícil de sua vida” e questionou abertamente o modelo atual de financiamento dos atletas. Segundo ele, enquanto os critérios de apoio se mantiverem descolados da realidade econômica dos esportistas, decisões drásticas continuarão sendo necessárias mesmo que à custa da carreira olímpica.

O caso, que permanece encerrado e sem previsão de reavaliação por parte da Paddle UK, escancara um impasse contemporâneo entre a autonomia individual e os códigos herdados do olimpismo clássico. No fim das contas, é o esporte que corre o risco de se tornar anacrônico e, nesse cenário, não é o atleta quem sai perdendo sozinho.

(Crédito da imagem: Reprodução)

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