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À primeira vista, “Shortbus”, escrito e dirigido por John Cameron Mitchell – o mesmo de “Hedwig – Rock, Amor e Traição” – , parece um filme moderninho sobre sexo e pessoas esquisitas. Mas na verdade ele fala, de maneira muito delicada e inteligente, da dificuldade que todos nós temos em sentir. Através da história de uma terapeuta sexual que nunca teve um orgasmo, conhecemos seu marido desempregado que se masturba vendo sites pornôs na internet, um casal gay que quer abrir sua relação, uma dominatrix que quer ter casa e cachorro, um modelo e um voyeur. Todos eles freqüentam o clube Shortbus, dirigido por um transformista e cantor, onde tudo é permitido em termos de sexo e comportamento.

 Foto: Reprodução

O mais interessante desse filme é que em meio a nus frontais, masturbações, ménages e cenas de dominação que jamais descambam para o grosseiro, Mitchell constrói personagens consistentes, capazes de fazer pensar e emocionar o espectador, chegando a picos de densidade dramática sem nunca perder o humor. Essa atmosfera de honestidade se deve muito ao fato do filme ter sido rodado com atores desconhecidos, que responderam a um anúncio na web e trabalharam por meses com o diretor e roteirista na criação de seus personagens.

 Foto: Reprodução

“Shortbus” está em cartaz em apenas um cinema do Rio de Janeiro, e não se sabe se vai para São Paulo. Mas existe em vídeo e vale a pena ser assistido. Talvez, inclusive, seja melhor vê-lo em casa, já que a platéia de solitários, pelo menos na sessão dessa segunda-feira, deu um show a parte. Talvez por vergonha de irem sozinhas, as pessoas, na maioria de homens, chegaram atrasadas, depois das luzes apagadas, e boa parte delas não se permitiu dividir nem a fila com outro alguém, e ficou trocando de lugar cada vez que aparecia um novo espectador na sua fileira. Uma prova de que realmente, além da dificuldade que temos em sentir, sentimos vergonha de gostar de filmes sobre sexo, e, principalmente, da nossa solidão.

Por Luciana Pessanha

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