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Tom Cruise, sempre ele, dominou o Governors Awards como quem entra em um set de filmagem sabendo exatamente que a câmera já está apaixonada. Hollywood parou — literalmente — para ver o ator finalmente receber seu Oscar honorário depois de 45 anos guiando a indústria com carisma industrial, disciplina de monge e uma devoção quase religiosa ao espetáculo. Nada de exageros: era o tipo de noite que a Academia adora fingir que não planeja, mas que organiza com a precisão de um relógio suíço quando quer recuperar prestígio.

No salão, a reação era aquela mistura de respeito e curiosidade que só alguém com o magnetismo de Cruise provoca. Ele subiu ao palco sem afetação, mas com o ar de quem sabe exatamente aonde chegou — e por quais caminhos tortuosos caminhou para isso. Ao lembrar da primeira vez em que entrou em um cinema ainda criança, ele quase deu à noite um tom íntimo que poucos atores ainda conseguem sustentar sem soar ensaiado. Ali, com a sala inteira suspensa, ele soltou a frase que virou assinatura: fazer filmes não é o que ele faz, “é quem ele é”. E sim, funcionou.

A entrega da estatueta por Alejandro González Iñárritu foi um capítulo à parte. O cineasta, agora colega de trabalho em um projeto previsto para 2026, brincou dizendo que resumir a carreira do ator em quatro minutos era “Missão: Impossível”. O público riu. Cruise sorriu. E os mais atentos captaram o subtexto: Iñárritu, geralmente avesso a fórmulas hollywoodianas, estava ali não só como parceiro, mas como avalista artístico — o que, em Hollywood, vale tanto quanto o prêmio.

Nos bastidores, a conversa era outra: a noite reafirmou Cruise como um dos últimos gigantes de uma era que está desaparecendo. Com quatro indicações ao Oscar competitivo no currículo, ele nunca tinha levado a estatueta para casa. Entre executivos e agentes, a leitura era pragmática: premiar Cruise agora também sela uma aliança com um dos poucos nomes capazes de levar pessoas ao cinema sem franquia, algoritmo ou campanha digital mastodôntica.

E, claro, teve o lado simbólico. No momento em que a Academia tenta provar que ainda entende sua própria relevância, entregar a Cruise um Oscar honorário é uma forma de dizer que o cinema — o de verdade, o de sala escura, suor, risco e insanidade criativa — ainda tem quem o defenda. Ele saiu da cerimônia como entrou: sorrindo. Mas, desta vez, com o troféu que a indústria insistiu por décadas em adiar. E que, cá entre nós, já era dele faz tempo.

(Créditos da imagem: Reprodução)

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