Por Roberta Sendacz
Em palestra em São Paulo sob o título “O texto sem vergonha”, a psicanalista Dominique Fingermann e a crítica literária Eliane Robert Moraes desfiaram milhares de palavras feias para mostrar que tudo depende do contexto para se tornar real, ou fornecer a imagem dele, ou justamente o contrário: a ficção pura. A literatura erótica é um campo fértil para tais realizações. Um exemplo é a palavra suja que começa com “m”, é muito popular e designa uma coisa nojenta. No papel, ela não fede, e na realidade, sim, diz Eliane. E aí reza a diferença.
O erotismo aparece na ficção porque bastam as criações de cenários para que tudo se encaixe. E aí, não faltam recursos, como metáforas e outras figuras de linguagem. Na mesma noite, Eliane lembrou-se de outro exemplo da literatura erótica do século 18, em que tudo era metafórico, as palavras vinham do universo náutico. Mais ou menos assim: me enterra essa âncora, e coisas do tipo. Vai muita tinta para o papel.
Por isso, pode ser uma questão achar que a vida do romance – escrito ou filmado – tenha mais sal que a vida real. Que uma cena de sexo na tela seja mais criativa. Mas tudo é escolhido de forma a realçar a hipérbole, o humor e qualquer outra emoção. A ideia é se misturar na ficção: “Marguerite Duras fez sexo com o texto”, analisa Dominique.