Por Jair Viana
A otite, inflamação no ouvido, é um problema de saúde comum, especialmente em crianças, mas que também pode afetar adultos. A médica residente Camila Batista Caixeta explica que a doença se manifesta principalmente de duas formas: otite média e otite externa, cada uma com causas e tratamentos específicos.
A otite média é mais frequente na infância e ocorre quando vírus ou bactérias atingem o ouvido médio, geralmente após resfriados, gripes ou crises de rinite alérgica. Em crianças, a anatomia do canal auditivo — mais curto e horizontal — facilita que muco e secreções respiratórias migrem para o ouvido, explica Camila. Já a otite externa, conhecida como “otite do nadador”, é uma inflamação do conduto auditivo externo, provocada por bactérias ou fungos. “A umidade retida no ouvido após nadar, ou o uso frequente de fones de ouvido e cotonetes, são os principais fatores de risco”, diz a otorrinolaringologista.
Segundo Camila Caixeta, entre os fatores que predispõem uma pessoa à otite estão as alergias respiratórias, como rinite e sinusite, que causam inflamação crônica e obstruem a tuba auditiva. A hipertrofia de adenoides, popularmente chamada de “carne esponjosa”, também é uma causa comum em crianças, pois prejudica a ventilação do ouvido médio.
O tratamento varia conforme o tipo e a gravidade da infecção. Em casos leves de otite média aguda, especialmente em crianças maiores e adultos, pode-se optar inicialmente por um tratamento sintomático, com analgésicos para controle da dor, antitérmicos e repouso. Camila orienta ainda sobre o uso de antibióticos: “O uso de antibióticos é reservado para situações em que os sintomas são intensos, há febre persistente, secreção purulenta no ouvido ou quando o paciente apresenta fatores de risco para complicações”. A estratégia busca equilibrar eficácia e segurança, evitando o uso desnecessário de medicamentos.
Para a otite externa, o tratamento é feito principalmente com gotas otológicas que combinam antibióticos e corticoides. Um cuidado essencial é a limpeza do conduto auditivo realizada no consultório, para que o medicamento possa agir adequadamente. Os pacientes também devem evitar molhar o ouvido, não usar cotonetes e suspender o uso de fones até a cura completa.
Existe ainda a otite secretora, caracterizada pelo acúmulo de líquido atrás do tímpano, geralmente após uma otite aguda. Muitas vezes assintomática, ela pode causar perda auditiva. Na maioria dos casos, o líquido desaparece espontaneamente. No entanto, se a secreção persistir por mais de três meses, ou se houver perda auditiva significativa, pode ser indicada a colocação de tubos de ventilação — os chamados “drenos” —, que ajudam a ventilar o ouvido médio e previnem infecções de repetição.
Camila ressalta que a prevenção é uma forte aliada para reduzir a incidência de otites. Medidas eficazes incluem a amamentação exclusiva nos primeiros seis meses de vida, que fortalece a imunidade da criança, e a manutenção da carteira de vacinação em dia, especialmente contra a gripe e o pneumococo, que previnem infecções respiratórias associadas à otite. O controle de alergias respiratórias, evitar o uso de cotonetes e a exposição à fumaça do cigarro também são importantes. Para prevenir a otite externa, recomenda-se secar bem os ouvidos após o banho ou natação e evitar a manipulação excessiva do canal auditivo.
É fundamental estar atento aos sinais de alerta que indicam complicações mais graves. Entre eles estão febre alta persistente, dor intensa que não cede com analgésicos comuns, secreção purulenta e inchaço ou vermelhidão atrás da orelha — que pode indicar mastoidite. Uma otite mal tratada pode levar a consequências sérias, como perda auditiva permanente, atraso no desenvolvimento da fala em crianças e, em casos mais raros, complicações intracranianas. Por isso, o acompanhamento médico é essencial para um diagnóstico correto e um tratamento adequado.