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Bruno e Antonio Fagundes || Créditos: João Caldas
Bruno e Antonio Fagundes || Créditos: João Caldas

Estreia nesta quarta-feira no Teatro Sesc Ginástico, no Rio, “Tribos”, comédia da inglesa Nina Raine, com direção de Ulysses Cruz. No palco, pai e filho, Antonio e Bruno Fagundes, reeditando uma parceria cênica que tem dado muito certo – eles trabalharam juntos no espetáculo “Vermelho” e no remake “Meu Pedacinho de Chão”. Glamurama foi conversar com Bruno, que conta ser  “sócio” de Antonio – sobre a peça e essa dobradinha familiar. “Ouso dizer que aprendemos juntos e de mãos dadas.” À entrevista! (Por Michelle Licory)

Glamurama: Em que momento seu pai é um espelho para você, e em que momento é um contraponto? O que vocês têm de parecido e de diferente? E como essa troca acontece no palco?
Bruno: Nossa profissão tem esse aspecto mágico e muito generoso que é o “estar em cena”. Quando o pano abre, a relação se torna muito democrática. Cada uma das pessoas lá envolvidas tem uma responsabilidade igualmente importante. Se a balança pender muito para um só lado, a coisa toda desequilibra. Então, ouso dizer que aprendemos juntos e de mãos dadas. É um privilégio dividir – ou melhor, multiplicar – esses momentos com ele. Dependemos um do outro quando estamos no palco e fora dele, tomando conta da produção como sócios. Temos muito em comum, principalmente o profissionalismo, o rigor, a paixão e respeito pelo teatro.

Glamurama: Como você e seu pai escolhem os textos que querem interpretar? Por que fazer “Tribos”?
Bruno: Na maioria dos casos, o processo de escolha de um texto é mais complexo do que parece. É uma marcha lenta e cuidadosa, requer muito foco e paciência. Mas, especialmente neste caso, não foi assim. Acredito que “Tribos” já estava previsto e reservado para nós: fui para Nova York a passeio, e, sempre quando estou na cidade, procuro assistir ao maior número possível de peças em cartaz. Encontrei, na programação Off-Broadway, o espetáculo “Tribes”. Não sabia nada sobre o texto ou a autora, então resolvi conferir. Foi amor à primeira vista. Me diverti, me emocionei e saí de lá modificado. Um ano depois estreamos em São Paulo.

Glamurama: Qual a sua tribo? Por que, em sua opinião, as pessoas se dividem cada vez mais em pequenos grupos, as tribos?
Bruno: Todos somos um pouco tribais em nossa essência. Uma tribo constitui forma própria de linguagem, interesses convergentes, hábitos comuns, isso é um processo natural. Mas sempre me considerei muito aberto nesse sentido. Minha educação me encaminhou para isso e sinto que ganhei muito na vida por ser assim – de tantas tribos que não pertenço a nenhuma. Mas o que estamos vivendo atualmente é mais grave, e acredito que o texto fala claramente sobre isso. Uma tribo não deve excluir a outra. Podem ser adversárias, mas não devem ser inimigas. A autora usa o meu personagem, que é deficiente auditivo, para fazer uma metáfora sobre a surdez e torná-la universal. Não seria uma espécie de “surdez” o que estamos vivendo? Pessoas diferentes se excluindo. Indivíduos cada vez mais egocentrados emitindo opiniões infundadas, a dialética perdendo totalmente seu espaço. O ódio irascível suscitando brigas religiosas, crimes raciais, intolerância com a diferença, preconceito, homofobia, falta de amor e disponibilidade. Enfim… Na minha opinião, essas divisões estão ocorrendo com maior freqüência pelo fato de estarmos efetivamente dispostos a “ouvir” somente o que nos interessa, descartando o resto. É triste.

Glamurama: Conte um pouco mais sobre seu personagem…
Bruno: O Billy nasceu surdo em uma família de ouvintes e sempre fez um esforço tremendo para compreender e ser compreendido, mas os parentes nunca retribuíram essa gentileza. Ele é o personagem mais especial que já vivi, pois tem uma pureza, disponibilidade e honestidade admiráveis, mas é passível de erros, como todos nós. Isso é muito rico! Além disso, tenho a responsabilidade de retratar sua identidade surda. Como ator, é um desafio enorme renovar meus estímulos diariamente para viver esta realidade tão diferente da minha. Além das questões técnicas da surdez, como é a vida interna dessa personagem? Suas ansiedades, alegrias, frustrações, erros, acertos? É preciso muita dedicação e rigor para entrar em cena.

Glamurama: É melhor ser surdo quando…
Bruno: Pessoas no poder falam tanta besteira.

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