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Queer Utopia: Act I Cruising
Queer Utopia: Act I Cruising. Foto: Divulgação

O Festival de Veneza, reconhecido como o mais antigo do mundo, está em pleno andamento em sua 80ª edição. O evento celebra o melhor do cinema internacional – o Leão de Ouro é um aquecimento para o Oscar. A programação deste ano começou em 30 de agosto e continua até 9 de setembro. Uma das áreas mais notáveis é o “Venice Immersive”, dedicado inteiramente à mídia imersiva, incluindo todas as formas de expressão criativa XR (Realidade Estendida). Este espaço, que ocorre presencialmente na Ilha Lazzaretto Vecchio, destaca-se por apresentar até 30 projetos imersivos em competição, muitos dos quais são estreias mundiais. É um ambiente onde a vanguarda do cinema encontra a tecnologia para criar experiências únicas e envolventes.

Dentro desse contexto destaca-se o “Queer Utopia: Act I Cruising”, curta-metragem de 25 minutos que se destaca por sua abordagem inovadora, uma vez que é apresentado em uma experiência de realidade virtual (VR). O filme narra a jornada de Gabriel, um homem queer de 70 anos que enfrenta a perda de memória. Em uma viagem de autodescoberta e ressignificação, o espectador é levado a revisitar momentos cruciais na vida dele e explorar os marcos culturais da comunidade queer que são fundamentais para a sua identidade.

Em entrevista exclusiva ao GLMRM, Rodrigo Moreira, produtor do filme, compartilha o processo de desenvolvimento do personagem de Gabriel, cuja história foi moldada a partir de entrevistas com pessoas queer mais velhas: “Inicialmente, começamos com um projeto no College da Bienal de Veneza, que tinha uma abordagem mais artística e menos narrativa. No entanto, à medida que avançávamos e começamos a entrevistar pessoas queer de 70 anos, percebemos que o anonimato era importante, já que muitas vezes era a única forma de explorar a sexualidade e a identidade de gênero sem serem julgadas. Com a falta de recursos tecnológicos que temos hoje, era um espaço onde as conexões aconteciam de maneira muito diferente”, explica.

Rodrigo discute a integração da inteligência artificial na criação de uma “memória especulativa” e como essa tecnologia contribuiu para a narrativa única do filme. “O Lui Avallos, diretor do filme, é um estudioso da área e trabalha com a questão da memória. Quando começamos a pensar em como abordar a daquelas pessoas que não estão mais aqui para contar suas histórias, surgiu a ideia de recriar memórias que não existem na realidade, como se estivéssemos imaginando como teria sido o mundo com essas pessoas. A inteligência artificial se tornou a base para a criação dessa memória especulativa. Ela nos permitiu explorar essa ideia de uma memória que não existe de uma forma única. É como se estivéssemos fragmentando e reconstruindo uma memória que nunca aconteceu. A IA é uma ferramenta poderosa para isso, pois podemos alimentá-la com dados e criar narrativas que nos transportam para um passado alternativo e um futuro desejado”, segue.

Foto: Reprodução/Instagram

Sobre o fotógrafo Alvin Baltrop, outra inspiração para o  projeto, ele afirma: “Foi uma influência fundamental em nosso trabalho. Sua fotografia documentou a cena queer de Nova York nas décadas de 1970 e 1980. Sua arte é uma janela para esse passado e uma forma de preservar a memória da comunidade queer. Incorporamos elementos de sua obra para conectar nosso filme ao contexto histórico e à experiência queer da época. Essa fusão de temas, entre a arte de Baltrop e a inteligência artificial, foi essencial para dar ao filme uma profundidade e autenticidade únicas.”

Rodrigo destaca a importância do Festival de Veneza como plataforma essencial para a exibição e o reconhecimento de filmes que estão na vanguarda da arte cinematográfica e da realidade virtual. Ele ressalta que esta é a terceira vez consecutiva que sua equipe tem alguma ligação com o festival. Em 2021, eles participaram do College, um programa que reúne os melhores do mundo para orientar sobre o desenvolvimento de projetos. Foram selecionados como um dos 12 participantes em todo o mundo. No ano seguinte, em 2022, participaram de uma mentoria dentro do festival focada na construção do projeto. Agora, em 2023, participam do festival com este filme. Rodrigo elogia o Festival de Veneza como um evento incrível e único, onde grandes nomes do cinema se reúnem. Destaca a proximidade das salas de exibição, que permite às pessoas conhecer outros projetos e acompanhar as tendências do cinema mundial.

Rodrigo enfatiza sua importância como uma plataforma para explorar novas fronteiras na arte cinematográfica e na realidade virtual. Ele também celebra o fato de que seu filme ficará em exibição durante 10 dias e todas as sessões já estavam esgotadas desde o segundo dia de exibição, o que é um grande sucesso.

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