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Marisa e Lula
Marisa e Lula || Créditos: Agência Brasil
Marisa e Lula || Créditos: Agência Brasil

Quem assistiu ao documentário “Entreatos”, de João Moreira Salles, pôde ter uma ideia da verdadeira dimensão de Marisa Letícia Lula da Silva na vida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No filme lançado em 2004, sobre os bastidores da campanha do petista à presidência dois anos antes, ele divide a cena com aqueles que viriam a se tornar alguns de seus maiores aliados no governo. Mas é ao lado de Marisa, em um dos momentos mais íntimos do documentário, que Lula se mostra mais à vontade: sentado no chão, abraçado à companheira de décadas, ele assiste emocionado à reportagem do “Jornal Nacional” sobre sua vitória no segundo turno da eleição presidencial que o levou ao Palácio do Planalto.

Descendente de italianos e descrita pelos mais próximos como dona de pulso firme e de sangue quente, Marisa nasceu em uma casa de pau-a-pique em bairro que leva o sobrenome da família dela, Casa, em São Bernardo Campo. Filha de uma famosa benzedeira da região, e de um agricultor, ela manteve o gosto pela vida no campo mesmo na época em que já era primeira-dama, a ponto de organizar em uma das residências oficiais da presidência, a Granja do Torto, a primeira festa junina que já aconteceu por lá, e que se tornou uma tradição em Brasília nos oito anos de Lula no poder.

O primeiro trabalho veio cedo, aos nove anos, quando ela se tornou babá das sobrinhas do pintor Cândido Portinari. Mais tarde, aos 13, conseguiu um emprego como embaladora de bombons na fábrica de chocolates Dulcora, de onde só saiu aos 19, para se casar com o taxista Marcos Cláudio. Com apenas seis meses de união, e grávida de seu primeiro filho, Marisa perdeu o marido, assassinado a tiros.

O primeiro encontro com Lula data de 1973, quando ela o conheceu em uma visita ao Sindicato dos Metalúrgicos. Logo eles começaram a namorar, e cerca de um ano depois se casaram. Amigos do casal são unânimes ao afirmar que desde o início foi Marisa quem assumiu a responsabilidade por cuidar das contas da casa, e ela teve papel fundamental em um dos momentos mais difíceis de Lula, quando ele foi preso. Depois de arrumar a mala dele e de vê-lo sendo levado por policiais, Marisa foi bater na porta de pessoas que poderiam ajudar o marido e até organizou uma marcha de mulheres contra prisões políticas.

Bastante discreta, ela se manteve longe dos holofotes nos anos em que foi primeira-dama. Seus pronunciamentos oficiais no cargo não passaram de quatro, que não chegaram a somar um minuto. Atrás das cortinas, no entanto, era ela quem confortava e aconselhava Lula, que a chamava carinhosamente de “minha loira”, e a única pessoa de quem o mais influente político da história recente do país aceitava receber ordens.

Em tempo: dona Marisa Letícia Lula da Silva, 66, teve morte cerebral nesta quinta-feira em razão de complicações causadas por um AVC hemorrágico. Nossos sentimentos à família.

(Por Anderson Antunes)

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