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1. O Chairman do Federal Reserve, o FED, Banco Central dos Estados Unidos, o economista Ben Bernanke, justificou implicitamente, num discurso feito na semana passada em Frankfurt, na Alemanha, as medidas tomadas no Brasil pelo ministro Guido Mantega. Ele afirmou que as desvalorizações cambiais nos países que mantém superávit em conta corrente estão impedindo os ajustes internacionais e criando problemas para outros países. O que irrita é que a sua mensagem no plural referia-se apenas à China, mas ele não ousou mencioná-la. Os vínculos e os interesses cruzados entre o setor privado americano (que controla o Congresso) e instalou-se na China para exportar para os EUA ( e o resto do Mundo) impede qualquer referência direta à China, cuja “sensibilidade” política à mais leve crítica é conhecida. E sua disposição de retaliar, também. O mesmo acontece, aliás, com os setores privados alemão e japonês instalados na China. Ninguém ousa enfrentar o dragão chinês com palavras. Imagine se vão enfrentá-lo com ações, em resposta ao seu completo desrespeito às boas normas de convivência necessárias ao justo comércio internacional.

2. Bernanke foi mais longe, afirmou que “as economias emergentes que, em grande parte, deixaram as forças de mercado determinar suas taxas de câmbio, viram sua competitividade reduzir em relação à das economias emergentes que intervêm mais agressivamente”. Na palestra ele mencionou particularmente o Brasil, cujo real sofreu a maior valorização de todas as moedas nos últimos dois anos e é dos países que menos elevaram o nível de suas reservas/PIB. Isso apenas confirma que a reação brasileira, leve e urbana, com a elevação do IOF, foi em legítima defesa, mesmo porque o Governo tem consciência que a solução do problema passa por uma redução das oportunidades de arbitragem criadas pelo enorme diferencial da taxa de juro real interna e externa.

3. Por outro lado o Governo sabe que esse diferencial não poderá ser eliminado apenas com “vontade política”. O Brasil precisa de um programa sério e crível que garanta que as despesas do Governo (excluídos os gastos de investimento) crescerão nos próximos anos a uma taxa inferior ao crescimento do PIB. É isso que permitirá ao Banco Central autônomo sentir-se confortável com a progressiva redução da taxa de juros real.

4. Em poucas palavras, é o controle dos gastos públicos (menos investimento) que precisa melhorar. Não se trata de reduzi-los absolutamente, mas relativamente ao crescimento do PIB. A Constituição de 1988 revelou a preferência da sociedade brasileira por uma organização democrática, republicana e razoavelmente justa, que crie, consistentemente, maior igualdade de oportunidades. O Brasil acaba de ratificar esse contrato. Deseja um desenvolvimento razoavelmente robusto com uma distribuição mais adequada. Lembremo-nos, entretanto, que quem escolhe o “trade-off” é a URNA, não os economistas, que têm, na melhor hipótese, apenas os seus e o meu voto (de confiança…).

Por Antonio Delfim Netto

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