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Fotos: Getty Images, Istockphoto.com; Divulgação

Por Aline Vessoni para a Revista PODER de julho || Fotos: Divulgação

Fazer reuniões no meio de uma nuvem de gelo-seco ou colocar o pinguim dentro da geladeira. Para o cenógrafo Felipe Morozini não há limites para estimular a própria criatividade

Você contrata um cenógrafo e vai à sua casa para uma reunião. Mas no encontro mal consegue vê-lo, pois ele ligou a máquina de gelo-seco. Esse cenógrafo, Felipe Morozini, gosta de criar diferentes perspectivas – diz que isso o ajuda a criar. Não conseguir enxergar nada dentro da própria casa é um dos recursos que ele usa para exercitar o lado direito do cérebro. Quando está com clientes, o artifício serve para esclarecer quem ele é. “Reunião no meio do gelo-seco faz com que o cliente entenda o profissional que pretende contratar”, conta. Mesmo sozinho, ele tem o hábito de encher a casa de dióxido de carbono solidificado – o gelo-seco – três vezes por semana. Também muda as cores das luzes. Essa curiosa rotina de interferências no ambiente talvez seja a única coisa sistemática da vida desse artista multifacetado. “Entre o meu despertar e dormir, crio – e sempre nas coisas mais banais do dia a dia. Gosto de abrir a geladeira e de encontrar um pinguim lá dentro, não do lado de fora. Esse tipo de coisa estimula meu lado criativo”, conta.

Quem o vê tão engajado na transformação do Elevado Presidente João Goulart, o Minhocão, em um parque, não sabe que o começo de sua vida no centro de São Paulo não foi agradável. “Há 17 anos, vim do Tatuapé morar no apartamento que era da minha bisavó e odiei.” Ele podia ter desistido da moradia e se mudado para outro bairro, mas não fez nada disso. “Quando eu não entendo uma coisa, estudo e tento transformar.” A ideia da Associação Parque Minhocão, dirigida hoje pelo artista, é de converter em definitivo a via de veículos num espaço exclusivo para pessoas, coisa que hoje só ocorre em parte do tempo.

Morozini se diz feliz com a mudança na atitude dos frequentadores do Minhocão, que, segundo ele, entenderam a importância de ocupar o espaço público – mesmo de um lugar “sem sombra nem banheiro”. Ainda que reporte dificuldade em ouvir uma resposta clara do poder público para a interdição definitiva do Minhocão para os carros, ele se considera um otimista. “Todo mundo que tenta trabalhar em parceria com o governo só pode ser otimista”, brinca.

Morando ao lado do Minhocão ou andando em qualquer outro canto da cidade, Morozini sente falta dos sons e, principalmente, do silêncio da natureza. Por essa razão, o cenógrafo trabalha ouvindo gravações do canto de pássaros e tenta deixar a metrópole rumo ao silêncio da natureza pelo menos uma vez por mês.

Abaixo, um jogo de palavras com o cenógrafo:

Cidade: para pessoas
País: Índia
Lugar: Bahia
Livro: Gandhi: Autobiografia – Minha Vida e Minhas Experiências Com a Verdade
Sonho: o dia todo
Segredo: não posso contar
Inspiração: a natureza
Bebida: Yakult
Restaurante: casa da minha mãe
São Paulo: meu caminho
Obra-prima: a vida
Fotografia: poesia
Câmera: objeto
Artista: Grace Jones

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