Publicidade
Wálter Maierovitch || Créditos: Paulo Liebert/Agência Estado​
Wálter Maierovitch || Créditos: Paulo Liebert/Agência Estado​

Com os muitos fatos e desdobramentos da Operação Lava Jato, o tema corrupção se tornou pauta obrigatória não só nas conversas entre amigos, mas também nas redes sociais. Partidarismo e opiniões pessoais à parte, para entender a origem da delação premiada e os rumos da Justiça brasileira, PODER entrevistou o jurista paulistano Wálter Maierovitch, desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo e fundador-presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone de Ciências Criminais. Por sua luta contra a máfia, Maierovitch, que também é professor-visitante da Universidade de Georgetown, em Washington, nos Estados Unidos, foi condecorado Cavaliere della Repubblica Italiana, tornando-se o primeiro magistrado estrangeiro a receber a honraria. O jurista conversou com PODER pouco antes de um encontro na Casa do Saber, em São Paulo, em que falaria sobre a Lava Jato e a lei.

Por Bruna Narcizo para a revista PODER de maio

ERA UMA VEZ

“Sempre fui muito favorável à delação premiada. O primeiro juiz a tratar do assunto foi o italiano Giovanni Falcone (assassinado pela máfia italiana em 1992 juntamente com a mulher e três guarda-costas). Para isso, Falcone foi buscar referências no trabalho de um jurista alemão do século 19 que acreditava que o aumento da criminalidade deixaria os estados tão fracos que eles precisariam conceder prêmios se quisessem obter informações.

O assunto começou a ganhar corpo a partir dos anos 1990, mas, infelizmente, chegou muito tarde ao Brasil. Não estamos sabendo trabalhar da forma correta com a delação premiada. Em uma investigação, acontece o fato e a Justiça deve apurar se ele é verdadeiro ou não. Aqui, os políticos citados por delatores têm seus nomes divulgados antes mesmo que haja indiciados e que se apure a veracidade dos fatos.”

ÉTICA X DELAÇÃO

“Se a gente pensar na questão ética não pode pensar em delação. Tanto é que, na Itália, os delatores são chamados pejorativamente de “arrependidos”. A Operação Mãos Limpas (deflagrada no início dos anos 1990 na Itália) começou com uma delação e levou à extinção de todos os partidos políticos envolvidos com corrupção. O processo teve mais de 5 mil suspeitos, 3.200 acusações e 1.254 condenações. Quatro empresários envolvidos no escândalo cometeram suicídio por conta disso.”

LIÇÃO DE CASA

“Na realidade, a Polícia Federal e o Ministério Público estão cuidando da Lava Jato. Mas existem mecanismos de controle de legalidade que estão sendo realizados pelo juiz Sérgio Moro, da vara de Curitiba, e pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Um juiz não pode antecipar o julgamento – senão, perde a imparcialidade. Até agora, não me parece que isso tenha ocorrido. Mas o Brasil ainda precisa resolver muitas coisas dentro do próprio Supremo. Situações que desmoralizam a Justiça, como o caso daquele juiz que ficou com o carro de Eike Batista, por exemplo. Temos vários problemas na magistratura. E não só relacionados à corrupção em si, mas ao abuso de poder e autoridade.”

LUZ NO FIM DO TÚNEL

“Apesar de tudo, acredito que estamos no caminho certo. A presidente Dilma Rousseff vai cumprir com suas promessas de campanha e apresentar sugestões para diminuir a corrupção. Mas o Brasil já deveria ter entrado há muito tempo no Grupo de Estados com a Corrupção (Greco). Criado em 1999, o órgão, que pertence ao Conselho da Europa, já conta com cerca de 50 membros e permite a entrada de países não europeus. Por que o Brasil ainda não está lá? Falta vontade política. Precisamos de uma legislação para fenômenos específicos. Uma coisa é lidar com a corrupção, outra é lidar com furto e assalto a banco. Todos precisam de tratamento legislativo apropriado.”

 

VOCÊ TAMBÉM PODE GOSTAR

Trump, Hollywood e um déjà-vu que ninguém pediu

Trump, Hollywood e um déjà-vu que ninguém pediu

Trump tenta ressuscitar a franquia Rush Hour ao se aproximar de investidores e de Brett Ratner, num movimento que parece mais político do que cinematográfico. A proposta mistura nostalgia, estratégia cultural e a tentativa de reabilitar nomes controversos, mas enfrenta um mercado que não demonstra demanda real por um quarto filme. O episódio revela mais sobre a necessidade de Trump de reafirmar sua persona pública do que sobre qualquer impulso criativo em Hollywood.
Tom Cruise enfim leva seu Oscar…

Tom Cruise enfim leva seu Oscar…

Tom Cruise foi o grande nome do Governors Awards ao receber, após 45 anos de carreira, seu primeiro Oscar — um honorário. Em um discurso íntimo e preciso, ele relembrou a infância no cinema e reafirmou que fazer filmes “é quem ele é”. A entrega por Alejandro Iñárritu, seu novo parceiro em um projeto para 2026, reforçou o peso artístico do momento. Nos bastidores, o prêmio foi visto como aceno da Academia a um dos últimos astros capazes de mover massas ao cinema. Uma noite que selou não só um reconhecimento tardio, mas também a necessidade de Hollywood de se reconectar com sua própria grandeza.

Instagram

Twitter