A tentativa de Donald Trump de ressuscitar “Rush Hour” soa menos como um projeto cultural e mais como um aceno carregado de nostalgia mal calculada. Segundo o jornal britânico The Guardian, o presidente dos Estados Unidos teria se aproximado do bilionário Larry Ellison, fundador da Oracle e dono da produtora de filmes Skydance, para tentar viabilizar um quarto filme da franquia estrelada por Jackie Chan.
A escolha de ”Rush Hour” não é acidental. A dupla formada pelo astro chinês e por Chris Tucker representou uma fórmula de ação e humor que marcou os anos 1990, mas cujo retorno dificilmente capturaria a energia original.
Trump, porém, enxerga no revival um instrumento cultural alinhado ao discurso de “fortalecer valores tradicionais” – sua forma habitual de transformar produtos pop em ferramentas de narrativa política. Para quem acompanha o jogo, parece menos uma aposta artística e mais uma sinalização ideológica.
E há Brett Ratner no meio disso. O diretor, afastado desde 2017 após acusações de assédio, reaparece aqui como peça-chave da engenharia trumpista. Sua reintegração seria um gesto calculado, algo como um desafio direto ao movimento que o tirou de cena e uma reafirmação da lógica de Trump de resgatar aliados que a meca do entretenimento descartou.
O problema é que nostalgia sozinha não sustenta um blockbuster. Em um mercado em que cada centavo precisa se justificar, apostar pesado num título envelhecido e cercado de controvérsias é, no mínimo, um risco mal planejado. A sensação é que o suposto ‘Rush Hour 4’ busca mais provocar do que convencer, mais marcar presença do que entregar relevância cinematográfica. Hollywood, pragmática como sempre, só embarca quando sente demanda real. E, até agora, não sentiu.
No fim, a história diz mais sobre Trump do que sobre a franquia. O chefe do executivo americano parece flertar com a ideia de retomar sua persona de showman, costurando política, entretenimento e autopromoção numa mesma narrativa.
(Créditos da imagem: Reprodução)
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